LAGUTROPIA
Ao voltarmos ao solo natal após 100 dias de hibernação numa zona fria escandinava, tivemos uma sensação de déjà vu que se considerou algo estranha tendo em vista que o processo de reinserção social e política iniciado no limiar dos anos 80 deveria ter sido suficiente para nesta altura nos considerarmos convenientes cidadãos de Lagutrópia, um estado confortavelmente adormecido nos confins da União Europeia.
Um país onde sinceramente se aprecia a arte teatral diariamente praticada por dirigentes de associações, partidos e governo.
Um país que acorda e adormece embalado pela arte e negócio do futebol,
Um país onde reina uma confusão democraticamente estabelecida e onde raramente se chega a qualquer atribuição de responsabilidades por mais graves que sejam as faltas e acusações.
Um país onde a manutenção de fortes desníveis culturais e de formação profissional é condição necessária para que muitos vivam muito bem à custa de muitos mais que de vez em quando são levados aos portões da miséria e do desespero.
Os espectáculos são rapidamente absorvidos, desenvolvidos e difundidos pela comunicação social escrita e falada de tal modo que em qualquer hora e dia da semana se torna possível ao cidadão comum esquecer-se de acompanhar os últimos fascículos das suas séries e telenovelas favoritas.
Com espectáculos gratuitos constantemente produzidos no areópago da Assembleia da República, nas reuniões de comissões parlamentares, nos corredores e ante-salas dos tribunais, nas delegações dos partidos, nas assembleias das confederações dos mais diversos grupos profissionais, aos portões de empresas falidas, nos campos e balneários do Desporto Rei.
Nas entrevistas televisivas com toda a classe de entendidos, responsáveis ou não, pouco tempo sobra ao cidadão mais atento e participativo para acompanhar os relatos diários sobre a fluidez da situação rodoviária neste mesmo instante na Ponte do Freixieiro ou na A13 onde tal informação directa e actualizada infelizmente não pode interessar quem se encontra nela embrulhado e menos ainda a quem está em casa e nada pode fazer.
Os noticiários televisivos em Lagutropia são geralmente muito mais alongados do que aqueles que se praticam nos serviços televisivos dos países nórdicos o que, pelas leis do mercado, apenas pode significar que nesses países as populações não foram capazes de desenvolver um mais apurado gosto pelo acompanhamento das práticas e das conversas particulares protagonizadas por heróis da nação.
Tudo isto que acima se aponta tem a ver com actores bípedes de ambos os sexos, particularmente bem vestidos e bem falantes o que de resto leva a crer que, contrariamente ao que se poderia supor, certa parte da população frequentou estabelecimentos universitários e tem, sem margem de dúvida, qualificação superior à média verificada na União Europeia.
Só assim se entende a fluidez da diarréia verbal com que a maior parte dos elementos das classes dirigentes em áreas politicas, financeiras, empresariais, sindicais, desportivas e jornalísticas, habilmente distribui pelos rebanhos de aficionados.
No entanto, trata-se de um país claramente marginal em tudo o que tem a ver com simples noções de produtividade, economia, justiça e responsabilidade.
Em questões económicas directamente relacionadas, não com a qualificação ou capacidade produtiva, mas com as necessidades individual ou familiar surgem disparidades socialmente inaceitáveis mas para os quais os dóceis filhos de Lagutrópia não reagem aceitando que um funcionário ou professor tenha de viver com um rendimento bruto anual na ordem dos 17.000 Euros quando esse é o rendimento bruto mensal de uma grande parte da classe média privilegiada para não mencionar os rendimentos absurdos recebidos no sector semi-público por altos dirigentes, politicamente escolhidos para cargos puramente representativos, em que nada fazem senão colher para encher não se sabe o quê.
Desigualdades existem em todas as sociedades e algumas são até necessárias para evitar uma estagnação mas convém sempre haver consciência do que é justo e razoável.
(*) Engenheiro Electromecânico formado no IST, em Lisboa; e na Universidade de KYH em Estocolmo. Hoje tem dupla nacionalidade: é um Luso – Suéco.
NOTA 1: SENADO NEWS achou por bem desmistificar a ideia corrente, de alguns anos atrás, que os emigrantes portugueses, como regra chegavam lá de “mala de cartão”, eram uma fonte de invisíveis para Portugal e regressavam, por força da saudade, construindo nas suas raízes uma casa onde acabavam os seus dias.
Actualmente, pelo trabalho, formação profissional e suas descendências, adquirem estatos privilegiados de não retorno conforme terminamos nesta série de 18 artigos
EDITORIAL
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