José Maria de Mendonça Júnior, Coronel de Cavalaria do Exército Português.

Vivência Militar: Portugal, Angola, França, Alemanha, Macau e Timor.

Condecorações: Serviços Distintos e Relevantes Com Palma, De Mérito, Avis, Cruz Vermelha, De Campanhas.

Vivência turística: Madeira, Açores, Espanha, Baleares, Canárias, França, Alemanha, Inglaterra, Italía, Suiça, Malta, Brasil, Paraguai, Marrocos, Moçambique, África do Sul, Zimbabwe, Indonésia, Singapura, Austráia, Filipinas, China.

Idiomas: português (de preferência), Espanhol, Francês, Inglês.

Com o fim de dinamizar a solidariedade através de comparticipação de cidadãos com inesquestionavél integridade de caracter.
 
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Saturday, September 03, 2005

Continuando a falar de fogos florestais


(*) Fernando Xavier de Brito

Começámos a semana com o Programa, sempre muito actual e importante de Fátima Gomes Ferreira, “Prós e Contras”. Como não podia deixar de ser o assunto foi os incêndios florestais, sendo na primeira parte analisada a forma como eles têm sido combatidos e as medidas a tomar para lhes pôr cobro e na segunda parte abordou-se o impacto benéfico ou negativo provocado pelos “media” na forma como transmitem a informação.
Foi interessante verificar a alusão feita à erradicação dos “Guardas Florestais”, as variadíssimas críticas e sugestões sobre o ordenamento florestal já tão debatidas e nunca postas em execução. Falou-se também sobre o “tabu” dos bombeiros sobre os quais nunca se ouve fazer uma crítica… e, para finalizar, a actuação de um “gestor de catástrofes” (?) que quando interrogado falava, falava, mas não dizia nada. Como diz o nosso “Zé”, muita parra e pouca uva. Suponho que foi uma desilusão para a apresentadora do programa.
Quanto à forma de actuação dos “media” foi bastante interessante verificar que no nosso País já se começa a pensar neste assunto, pena é que a “SIC” e “TVI” não se tenham feito representar, apresentando argumentos que a meu ver não têm razão de ser.

Sobre o mesmo tema assistimos à entrevista com o multifacetado e mefistofélico ministro António Costa que, como sempre, deu aquelas inteligentes respostas que todos nós conhecemos, mas que nada resolvem. Contudo, fez uma afirmação muito verdadeira e que os Governos de que tem feito partem também já o confirmaram. Disse Sua Excelência que a maioria das pessoas que criticam ou sugerem várias medidas a aplicar, nada percebem do assunto. Esta é uma grande verdade que, infelizmente, também se pode aplicar a alguns políticos. Tal como diria o nosso Zé Povo “Quem te manda a ti sapateiro, tocar rabecão.”

Vejamos o caso da Protecção Civil que antigamente se chamava “Serviço Nacional de Protecção Civil”, que tinha como missão fundamental a Coordenação das acções de socorro através de Planos de Emergência previamente elaborados e baseados nos estudos de Levantamento de Riscos e de Meios Disponíveis nos várias escalões, ou seja a nível nacional, distrital e camarário.
Nos Distritos havia um Delegado Técnico nomeado pelo Serviço, a nível Camarário era o Presidenta da Câmara que fazia a sua escolha. Contudo, havia sempre uma grande interligação e colaboração aos vários níveis.
Em cada gabinete de Protecção Civil, (nacional, distrital e municipal) existiam representantes dos vários elementos que fossem chamados a actuar e que serviam de ligação com o seu Serviço ou Entidade que representavam.
Assim, havia um representante dos Bombeiros (que serão sempre os primeiros a actuar no terreno), dos três ramos das Forças Armadas, das Forças de Segurança, Cruz Vermelha, Hospitais, EDP, CP, Companhias de transportes, etc., etc.
A presença física destes representantes nem sempre era obrigatória. O que era obrigatório era a garantia de poder haver um contacto imediato e a qualquer hora, pois só eles sabiam quais as fontes a contactar dentro da sua área, sempre que algo fosse necessário do Serviço ou Entidade a que pertenciam.

Paralelamente foram criadas as CEFF (Comissão Especializadas de Fogos Florestais) integradas a nível Distrital e Camarário, da qual fazia sempre parte um representante da Direcção Geral das Florestas e dos Bombeiros.
Na época de verão, havia sempre um Coordenador dos Meios Aéreos em cada aeródromo, nomeado pelo Serviço Nacional que, em conjunto com um representante da D.G. das Floresta e outro do Serviço Nacional dos Bombeiros, geriam a actuação dos meios aéreos.
Já nessa altura, existiam as brigadas de intervenção rápida constituída por cinco elementos do Serviço Nacional de Bombeiros e dos Serviços Florestais que eram imediatamente transportadas para o local em helicóptero e iniciavam o combate terrestre.

Posteriormente, tal como enunciou o Sr. Ministro veio uma cabeça inteligente que juntou o “Serviço Nacional de Protecção Civil” com o “Serviço Nacional de Bombeiros”. Nunca percebi qual o interesse que levou a este casamento...
Economicamente não se justifica, pois que grande parte do pessoal que integrava o Serviço, eram Militares aposentados que tinham estado no Ultramar, habituados a terem de decidir debaixo de forte tensão (o que é essencial nestas circunstâncias) e auferindo um terço do vencimento da categoria que desempenhavam (nessa altura era aplicada a tal lei agora é tão falada e nunca houve uma reclamação).
Só vejo uma explicação, foi concretizar a aspiração dos Bombeiros, que sempre viram o Serviço Nacional de Protecção Civil, como uma interferência na sua coutada.
Eu sou testemunha disso ao contactar, por dever de missão, com vários Comandantes. Além disso frequentei voluntariamente um Curso para Comandantes de Bombeiros, onde tive a oportunidade de os contactar e avaliar.
Estará aqui o tal “tabu” de que se falou no programa “Prós e contras”?

Mais uma vez fica aqui demonstrada a razão do Sr. Ministro. Quem fez este casamento de forma alguma conhecia a função e missão, absolutamente distintas, dos dois Serviços.
Um está vocacionado para a prevenção e coordenação. O outro para a acção, preocupando-se com o equipamento e preparação técnica dos seus elementos.

Outra coisa que o Sr. Ministro falou foi na preparação técnica dos Bombeiros. Mais uma vez tem V. Exª. carradas de razão, eu também sou dessa opinião. Mas diga-me uma coisa Sr. Ministro como é que V. Exª. vai preparar tecnicamente os Comandantes dos Bombeiros? Vai mandá-los tirar cursos depois deles terem saído dos seus empregos, roubando-lhes o pouco tempo que lhes resta para o convívio familiar e tratar dos assuntos da sua Corporação?
Referiu-se Ex.ª aos elementos alemães que nos vieram ajudar, que um homem equivalia a cinco. Correcto, mas desses cinco, um era polícia. Era um profissional pago pelo Estado. Também por cá, se V. Ex.ª procurar também os encontra. Tal como nos Super Mercados paga um e leva dois…

Senhor Ministro, vamos a realidades. Com todo o respeito que me merece o voluntariado, também já fui bombeiro voluntário, temos que encarar com realismo a missão do Comandante de um Corpo de Bombeiros Voluntários. Já que não podemos ter, por razões económicas, bombeiros profissionais e temos de recorrer aos voluntários, vamos criar uma solução intermédia, mas justa. Profissionalizemos os Comandantes e que sejam pagos pelo Estado, sendo obrigados a uma reciclagem e avaliação de conhecimentos permanente. Os prejuízos causados pelos fogos florestais justificam plenamente este investimento.
Recorda-se V. Ex.ª de dois acidentes ocorridos há poucos anos em fogos florestais, um em Armamar e outro em Águeda, que provocaram a morte de sete bombeiros num e noutro nove? Ambos foram consequência do chamado efeito de chaminé e que, para ser evitado, obriga a um conhecimento profundo da orografia da região e dos seus ventos predominantes. Isso não foi tomado em devida conta. Foram erros humanos que roubaram dezasseis vidas.
Poderemos então pedir responsabilidades a quem os dirigia, sabendo que são pessoas que dedicam toda a sua vida e sacrificam o convívio da Família por dedicação à causa e à Corporação?
Não Sr. Ministro, como sempre a causa é de quem dirige e, neste momento, se verdadeiramente pretendem pôr fim a este flagelo, vamos fazê-lo como deve ser e não para inglês ver.
Só profissionalizando os Comandantes das Corporações de Voluntários será possível ter pessoal devidamente preparado e a quem possamos exigir responsabilidades.
De amadorismo Sr. Ministro, estão os Portugueses fartos, também é verdade que estão fartos daqueles que da política fizeram profissão.

(*) Coronel de Cavalaria