A NATO NAVEGA PARA O SUL
(*) Mendonça Júnior
Estava a tardar, mas ei-la finalmente; a NATO vai passar a operar para lá da região norte do Atlântico, cuja defesa lhe foi confiada, quando da sua fundação, vai para mais de meio século.
Em termos mais concretos, a organização militar liderada pelos “States” e integrada por vários países europeus, entre os quais Portugal, vai em breve instalar uma base operacional em Cabo Verde.
O arquipélago atlântico que, fazendo parte dos chamados FALOP, se localiza a escassas milhas da costa ocidental africana e num ponto onde se cruzam as principais rotas marítimas que ligam a África Meridional e grande parte da América Latina à Europa.
A notícia foi divulgada inicialmente a partir da capital caboverdiana – cidade da Praia – e mais tarde teve confirmação oficial de Bruxelas. De acordo com ela, a base vai ter por missão combater o quotidiano e crescente tráfico de droga e de mão-de-obra clandestina, que, procedente da América Latina e de algumas regiões africanas, se destina à Europa.
Certo que a NATO, uma vez morto o bolchevismo: «esse “tigre de papel”, engendrado e financiado por banqueiros judeus-americanos, com a finalidade de destabilizar a Rússia e o resto da Europa, para que não crescessem e deste modo não fossem concorrentes», deixou de ter inimigos oficiais. Por isso há todo o interesse em inventá-los.
Só que essa de proclamar que o inimigo a combater agora é o narcotráfico ou a mão-de-obra clandestina não é coisa facilmente deglutivel. Já que, como é do conhecimento geral, tanto o narcotráfico como a mão-de-obra clandestina, em rota quotidiana para a Europa, são fenómenos corriquieros e que, de anos a esta parte, se manifestam quase que à luz do dia, sem que na prática sejam perturbados.
E tudo isto porquê? Simplesmente porque quem gere e controla o negócio da droga são “clans internacionais” poderosíssimos, graças aos milionários ganhos que arrecadam. Ganhos que movimentam de país para país, em operações de branqueamento, que fazem deles clientes queridos e privilegiados da alta finança, que é afinal, e como se sabe, quem põe e dispõe.
Quanto à mão-de-obra clandestina, sendo como é a mais barata, é naturalmente a mais cobiçada e isso diz tudo.
Há ainda um outro pormenor a reter. Os traficantes não são otários: engendram e têm à sua disposição mil e umas rotas de utilização.
Perante os considerandos que antes se formulam, ficam-nos sérias dúvidas sobre se os responsáveis da NATO têm justificação para avançar com a nova base operacional, a menos que a sua verdadeira finalidade não seja essa.
Comentário: Qual então? O que será? Novas e fabulosas jazidas petrolíferas ou de urânio? O futuro dirá por nós. Mas, para já, é bom lembrar que a África, esquecida até há pouco tempo, está agora á luz da ribalta, graças às sonoras campanhas do inglês Blair e as generosas promessas de ajuda do omnipotente “G8”.
(*) Coronel de Cavalaria
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