E ENTRETANTO PORTUGAL CONTINUA A ARDER (III)
(*) Carlos Galvão de Melo
O avião de pouco ou nada serve quando o incêndio na sua marcha destruidora já cresceu para frentes de 10 ou mais quilómetros A partir desta dimensão nenhum meio humano de combate ao incêndio o pode parar e muito menos extinguir. Ele extingue-se por si próprio quando já nada houver para arder.
No Artº. Anterior chamei a atenção para este facto, e hoje insisto porque é esse o ponto sensível, o ponto de não retorno.
É este o panorama que os aviões de maior tonelagem, alugados tardiamente, vêm encontrar quando chegam a Portugal pilotados por operacionais que desconhecem por completo as áreas onde vão actuar.
Esta é a prática criminosa e dispendiosa que se vem adoptando em Portugal vai para mais de trinta anos.
A frota aérea contra incêndios tem de estar permanentemente disponível dia e noite, bem assim as suas tripulações que devem ser mantidas a par das situações de fogo ou simples ameaça, actualizadas sempre que evoluem.
Só partindo de conveniente estado de alerta, tripulados por operacionais familiarizados com as possíveis zonas de intervenção, podem as aeronaves atacar o incêndio enquanto não alastrou demasiado, isto é nos primeiros minutos. Pilotos decididos a atacar o incêndio, com o mesmo ardor e abnegado patriotismo com que o piloto de guerra ataca o inimigo que vem tentar roubar-lhe a terra. Atitude esta impossível ao mercenário cuja finalidade é ganhar dinheiro.
O importante é impedir que Portugal continue a ser devastado pelo fogo e não só. De facto, como se o fogo não chegasse há quem esteja interessado – desesperadamente interessado – em destruir a Base Aérea da Ota, a mais sólida unidade aérea construída em Portugal, para dar lugar à construção de um aeroporto internacional que ficará situado na pior área geográfica que imaginar se pode.
Quando for oportuno darei a público um artigo exaustivo ( já delineado) demonstrando a dimensão e as implicações do crime que é destruir uma base aérea excelente, em pleno funcionamento, para aí edificar um aeroporto que mal servirá os fins nacionais e pouco há-de interessar aos internacionais. O título desse artigo vai ser «Crime e traição».
Os portugueses têm o direito de ser informados acerca da mediocridade de quem os governa e engana com mentiras. Em particular aqueles milhares de portugueses que vivem no limiar da miséria, têm de saber porquê as suas pensões e os seus ordenados não podem ser aumentados: não podem porque o erário público é desbaratado em obras a prejuízo do bem estar da Nação e, até, contra a segurança da Pátria.
Entretanto Portugal continua a ser destruído pelo fogo e ainda mais pela corrupção. Mas voltemos ao tema central.
Aqui chegados poderíamos terminar pois que já foram apresentados e explicados argumentos de sobra criticando o que se tem feito de mal feito e o que não se tem feito e que devia ter sido feito. Vou ainda fornecer alguns dados sobre as mais recentes produção de aeronaves contra incêndios que já equipam vários países.
Porém, mais completo do que o que eu possa aqui dizer, sugiro que se leia o Diário de Notícias de 9 de junho último, no qual podem encontrar abundante e detalhada informação reforçada com fotografias que muito ajudam a compreender e fixar.
Do já idoso Canadair, anfíbio que carrega 6 toneladas e se abastece em 10 segundos sem pousar, e foi mestre absoluto durante vários anos não vale a pena aqui mais dizer por duas razões: todo o mundo civilizado o conhece e está ultrapassado.
Felizmente são muitas e variadas as mais recentes e eficazes aeronaves contra incêndios.
Alguns exemplos:
O 64 americano, carrega 10.000 litros.
O Beriev Be-200, russo, carrega 12.000 litros.
O japonês VS-1ª KAI, carrega 15.000 litros.
O russo MI-26T, carrega 20.000 litros.
O russo ILY ushinII-76, carrega 57.000 litros.
O americano Evergreen Supertanker adaptado do gigante Boeing, carrega 90.000 Litros.
Como se vê há muito por onde escolher.
Quando na década de oitenta apresentei o Canadair, um dos argumentos negativos muito ao gosto dos políticos era “e o que fazemos com esses aviões quando não há fogos?”
Mau grado a hipocrisia da pergunta, eu repondi-lhes com outra pergunta “ que fazem os
Senhores com os aviões de guerra quando não há guerra?” e por vezes acrescentava: «já se deram conta que os períodos sem guerra são – felizmente – muito superiores aos intervalos entre incêndios que reaparecem todos os anos com a Primavera?»
Mas, como diria Camões: a nada os brutos se moviam.
Eles sabiam perfeitamente que o Canadair era extremamente versátil. Mas ainda que o não fosse que bom seria possuir uma modelar frota aérea contra incêndios… e nunca haver incêndios.
Não, a oposição destes senhores nada tinha haver com o modo de utilizar os aviões nos períodos do ano em que a terra, permanentemente encharcada não arde, porque o que os afligia era não vislumbrarem lucros pessoais numa aquisição em que, como já o disse no 1º artigo, não se usava uma divisa.
Esta é que é a verdade de que pouco se fala mas todos adivinham.
Sr. Presidente da República, a salva guarda do património nacional é da Vossa responsabilidade e competência: actuai sem tardança, porque…
«E ENTRETANTO PORTUGAL CONTINUA A ARDER».
(*) General Piloto Aviador com o Curso Complementar do Estado Maior.
3 Comments:
This comment has been removed by a blog administrator.
This comment has been removed by a blog administrator.
This comment has been removed by the author.
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home