EMIGRAÇÃO DOS PORTUGUESES (XVII)
(*) José Pegado
Confortavelmente sentado na minha cadeira preferida, agora já em Portugal, continuei a recordar, as minhas reflexões – citadas nos artigos anteriores e agora finalizadas – em termos da nossa intraduzível palavra SAUDADE, o passado de:
UM EMIGRANTE LUSO-SUECO
Regressar é sempre muito relativo e depende da posição de cada um de nós em relação a origens, outros lugares por que passamos e outras gentes com quem convivemos.
Somos todos muito influenciados pelas experiências de vidas passadas, e quantos mais lugares, gentes e acontecimentos vividos, acabamos por ficar mais confusos relativamente a origens e lealdades a uns e outros.
Ainda que não tenha sido o objectivo principal destas reflexões apresentar diferenças entre os meus países de origem e de adopção, tais diferenças tornam-se evidentes pelos meus relatos e opiniões.
Quando as escolhas se limitam a preto ou branco ou a sim ou não as decisões têm de ser muito bem pensadas pois que na base existe um pressuposto de pontes queimadas. Felizmente assim não é.
O que em geral se procura é uma via realista e egoísta ainda que moralmente defensável.
Para nós viver em Portugal não apresenta problemas de maior.
Conhecemos bem a língua e os costumes, temos amigos de boa qualidade e em número suficiente, apreciamos a cozinha portuguesa, vivemos num lugar excepcionalmente agradável, gozamos de boa saúde e levamos uma vida saudável com ocupações de nosso pleno agrado.
Então o que nos falta?
Falta-nos a facilidade de em pouco tempo e com pouco custo podermos estar junto da família mais chegada.
Falta-nos a certeza de sermos rápida e correctamente atendidos numa situação de acidente ou de saúde mais fraca.
Falta-nos uma desejada proximidade a actividades culturais que Cercal, Sines, Odemira e Santiago não podem oferecer.
Falta-nos a Antena Dois, de um rádio plena de música clássica, leituras e conversas inteligentes. Na Suecia o Canal 2 tem pouca música e muita conversa.
As grandes diferenças entre Portugal e Suecia que eu senti e notei quando para cá vim, faz agora mais de 50 anos, continuam em tudo o que depende do clima e da formação básica das populações que se reflecte na habilitação profissional e na consciência de deveres e de direitos cívicos.
Não aprofundarei estes últimos pontos para não ferir sensibilidades nacionalistas e para não ter de retorquir que em tudo e todos existem excepções. Falo de generalidades, falo de maiorias, falo de estatísticas, pois são estas as cores com que no fim de contas se faz o quadro.
Tenho imensa pena das crianças em idade escolar que não têm hoje pais que as eduquem no sentido cívico de se tornarem membros sérios e participantes da sociedade em que vivem.
Tenho pena dos professores que de mãos e bocas atadas por directivas enunciadas por falsos profetas não podem exigir melhor comportamento, mais atenção e melhores resultados do seu trabalho.
Educação cívica e a prática dos direitos fundamentais e responsabilidades… é tarefa fundamental dos pais.
Tenho pena do desperdício e da despesa que tal desperdício acarreta pois esse dinheiro mal gasto faz muita falta noutros sítios.
Tenho medo e pena da sociedade que virá a emergir quando tais adolescentes, hoje mal formados, vierem amanhã a ocupar cargos na administração das empresas e instituições dos respectivos países.
Este é um grave problema que hoje atinge a maioria dos países, mais desenvolvidos e principalmente aqueles onde anteriormente se desenvolveu muito esforço no sentido de educar e democratizar as populações pois nelas se instalou a falsa concepção que democracia é o poder do povo, que democracia é o direito de cada um dizer e fazer o que quer sem se preocupar com a outra face do enunciado, aquela que apela à responsabilidade e à solidariedade.
(*) Engenheiro Electromecânico formado no IST, em Lisboa; e na Universidade de KYH em Estocolmo. Hoje tem dupla nacionalidade: é um Luso –Suéco.
NOTA 1: SENADO NEWS achou por bem desmistificar a ideia corrente, de alguns anos atrás, que os emigrantes portugueses, como regra chegavam lá de “mala de cartão”, eram uma fonte de invisíveis para Portugal e regressavam, por força da saudade, construindo nas suas raízes uma casa onde acabavam os seus dias.
Actualmente, pelo trabalho, formação profissional e suas descendências, adquirem estatos privilegiados de não retorno conforme o que temos vindo a publicar nesta série de 18 artigos
EDITORIAL
Temas e Debates
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