A LIQUIDAÇÃO DO ULTRAMAR (II)
A questão estava em determinar até que ponto as forças armadas, para evitar as soluções militares que eram justificação da sua própria existência, se encontravam dispostas a ceder no campo das soluções políticas.
Nos princípios de 1975 ter-se-ia realizado, em Paris, uma conferência convocada pelo Partido Comunista onde, elementos heterogénios da esquerda portuguesa, se comprometeram a levar a cabo uma revolta em Portugal, o mais tardar até 25 de Abril.
Estiveram presentes, além do PCP convocante, a Acção Socialista Portuguesa, uma dezena de militares, católicos progressistas e representantes da maçonaria.
Não era a primeira conferência ali realizada, com maior ou menor participação das chamadas esquerdas oposicionistas e mesmo de simples descontentes. Mas o facto do PC russo ter enviado uma pequena delegação, com instruções claras e poderes precisos para assumir compromissos financeiros, conferia-lhe particular importância.
A revista “Faits et Idées” que a chamada “Frente Portuguesa de Libertação” publicava em França, afirmou em Agosto de 1976 que, nessa conferência – para a qual tinha sido convidada – fora decidido o reforço da infiltração marxista nas forças militares portuguesas e elaborado um plano para intensificação do terrorismo nas províncias africanas.
Aliás, como refere “Faits et Idées”, ficou assente que o governo saído da revolução deveria pagar integralmente todos os dinheiros recebidos. O que fez com a compra de açúcar a Cuba a preços superiores aos do mercado internacional e, à Rússia, compra de madeira de pinho e sardinhas, e venda de vinho a dois escudos o litro e sapatos a cem escudos o par.
O sucesso da revolução implicaria a instalação na Metrópole de um regime “democrático a caminho do socialismo” que poria termo à guerra colonial.
A independência da Guiné, Angola e Moçambique seria concedida imediatamente, mediante a entrega do governo aos movimentos terroristas de obediência comunista, sem condições políticas e económicas nem indemnizações.
Os colonos deveriam ser repatriados a expensas de Portugal.
Embora nos meios políticos afectos à esquerda a conferência de Paris tivesse tido ampla repercussão, a sua realização e o clausulado suscitaram interrogações a que nunca foi dada resposta conveniente.
Em primeiro lugar para quê um conferência em Paris entre os PCs soviético e português?
A linha de conduta dos comunistas portugueses foi sempre, fora de questão – mas na altura, se possível do que hoje – fixada autoritariamente pelo Kremlin; a Acção Socialista Portuguesa não tinha qualquer implantação no país e os seus dirigentes careciam de prestígio.
Nestas condições para quê a conferência?
Teria sido convocada para provocar a presença e comprometimento de meia dúzia de militares e outros tantos ex-militares desertores que formavam o grupo de Argel?
Dir-se-ia gente desprezível de mais para justificar um tão grande interesse como então se afirmava ter-se verificado por parte da delegação russa.
Parecia mais fácil acreditar que Moscou, com essa conferência procurasse obter cobertura civil a uma operação militar já em preparação e, provavelmente em estado mais adiantado do que então se julgava.
A realização dessa conferência, suscitava uma segunda interrogação: Moscou não recearia a reacção dos E. U. à manifestação do seu expansionismo? Por muito que nos altos postos da administração norte-americana pululem os Alger Hiss – como incontestavelmente acontece – o Pentágono teria, necessariamente, uma palavra a dizer quanto á perda, para o Ocidente, do Ultramar português com portos no Atlântico e no Índico indispensáveis à defesa da rota do Cabo.
A resposta a esta última não se afigura particularmente difícil. No calendário da agressão russa ao Ocidente chegara o momento de transformar as guerrilhas terroristas da Guiné, de Angola e Moçambique em governos de estrita obediência comunista.
E como a derrota do Vietnam, que os E.U. aceitaram por razões de cobardia nacional, Watergate – cujas profundezas estão por declarar – deixaram a águia norte-americana muito desplumada, Moscou não teve dúvidas que jogando com a “coexistência pacífica” e com o “climat de détente” poderia levar a cabo a operação “África Portuguesa” sem complicações internacionais de maior.
Brejnev, em 1972, tinha assinado com Nixon, no “sommet” de Moscou, um tratado solene em que se obrigavam a nunca, e por razões algumas, procurarem obter vantagens territoriais. Dentro da técnica usual comunista, os papeis que Brejnev e Nixon assinaram em Moscou, apenas queriam significar que a URSS preparava uma nova campanha expansionista, precavendo-se, com antecedência, com justificações adequadas, sobretudo para fins eleitorais norte-americanas.
(*) Fundador, proprietário e comentador do «Jornal Português de Economia e Finanças».
NOTA 1: Continua no (III)
NOTA 2: Os negritos e itálicos são da nossa responsabilidade.
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