José Maria de Mendonça Júnior, Coronel de Cavalaria do Exército Português.

Vivência Militar: Portugal, Angola, França, Alemanha, Macau e Timor.

Condecorações: Serviços Distintos e Relevantes Com Palma, De Mérito, Avis, Cruz Vermelha, De Campanhas.

Vivência turística: Madeira, Açores, Espanha, Baleares, Canárias, França, Alemanha, Inglaterra, Italía, Suiça, Malta, Brasil, Paraguai, Marrocos, Moçambique, África do Sul, Zimbabwe, Indonésia, Singapura, Austráia, Filipinas, China.

Idiomas: português (de preferência), Espanhol, Francês, Inglês.

Com o fim de dinamizar a solidariedade através de comparticipação de cidadãos com inesquestionavél integridade de caracter.
 
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Saturday, February 24, 2007

A LIQUIDAÇÃO DO ULTRAMAR (VIII)

(*) A Valdez dos Santos - edição do N.E.O.S. de Abril de 2002.
A questão estava em determinar até que ponto as forças armadas, para evitar as soluções militares que eram justificação da sua própria existência, se encontravam dispostas a ceder no campo das soluções políticas.

O nosso país tinha em África um duplo património: o histórico cimentado pelas ossadas de centenas de milhar de portugueses de todas as etnias, que ao longo de mais de cinco séculos , haviam dado a vida pelo Portugal Imperial que desde há quase seiscentos anos sempre fomos – e o económico.

As trocas da Metrópole com o Ultramar e os bens dos portugueses nas províncias ultramarinas africanas, produto de investimentos directos retirados ao circuito das possibilidades e necessidades da economia do quadrilátero europeu, ou produto das poupanças amealhadas pelos colonos durante vidas de trabalho humilde e perseverante – representavam um factor indispensável ao equilíbrio económico do país.

Portugal nunca foi um país rico.
Mas antes do 25 de Abril as economias acumuladas durante séculos por um povo sóbrio e trabalhador, e o equilíbrio baseado na complementaridade dos recursos metropolitanos e ultramarinos, assegurava-lhe uma sólida base para a conquista de um nível de vida europeu.

Grande parte dos seus alimentos provinham do ultramar: óleos e sementes oleaginosas vinham da Guiné, Cabo Verde, S. Tomé, Angola Moçambique e Timor, o açúcar de Angola e Moçambique, o café de Angola, Cabo Verde, S.Tomé e Timor, o chá de Moçambique, o cacau de S, Tomé e Príncipe e milho de Angola.
Mesmo em matéria de fornecimento de petróleo, a participação de Cabinda no abastecimento nacional, já assumira, em 1973, posição de relevo, prevendo-se possibilidade de auto-suficiência na década dos anos oitenta.

Ainda que, a Metrópole pagasse as suas compras ao Ultramar às cotações internacionais, as importações líquidas por compensação com as exportações – a que acresciam os invisíveis das transferências unilaterais de um milhão de europeus e seus descendentes – não implicavam qualquer pagamento em divisas, deixando livres os recursos em moeda estrangeira, concentrados no Banco de Portugal, num “pool” da área do escudo, para utilização nos vastos planos de fomento metropolitano e ultramarino em que o país andava empenhado.

Por outro lado a Metrópole e o Ultramar formavam um vasto mercado que oferecia aos produtos de um e outro dos dois termos do binómio político e económico português, potencialidades que o governo procurava aproveitar.
Se a industria metropolitana – e não apenas a pequena e média indústria – encontrava no Ultramar um mercado seguro para muitos artigos que hoje, só para o mercado do rectângulo europeu, não está em condições de continuar a produzir a preços de competência internacional, na Metrópole eram cada vez mais frequentes os artigos da indústria ultramarina que concorriam com sucesso, com os seus similares metropolitanos.

A grandeza do todo nacional impulsionava o crescimento de uma marinha mercante que, tendo ultrapassado um milhão de toneladas de arqueação se incluía, em 1973, entre as trinta maiores do Mundo, e os TAP, hoje a braços com todos os problemas resultantes da sua pequenez e desorganização, foi em 1972, a trigésima sexta companhia de navegação aérea mundial pelo número dos seus passageiros/quilómetro.

O escudo, pelo volume das transacções portuguesas (Metrópole e Ultramar) em relação ao estrangeiro, e pelas grandes reservas monetárias acumuladas por uma administração honesta e orientada para fins nacionais, contava-se simultaneamente, entre as maiores e mais sólidas moedas mundiais.

O futuro dos portugueses, ainda que não isento de preocupações, apresentava-se prometedor.

Na tarde que precedeu a eclosão da revolução dos cravos o embaixador da Alemanha, que regressava ao seu país, dera uma festa de despedida na sua casa do Restelo.
Muita gente alegre e despreocupada.

Meses antes o “Financial Times” previa para o fim da década dos anos setenta “um milagre económico português” apoiado num crescimento explosivo da economia ultramarina – sobretudo a de Angola – e na industrialização metropolitana.

Na ampla varanda da casa do embaixador, virada ao Tejo, grupos de pessoas falavam de rumores, que corriam em Lisboa.
Havia a ideia de um descontentamento militar que se percebia mal.
Mas o tom geral era de confiança.
Alguém, disse parafraseando o presidente Hoover, dos Estados Unidos:
“Seja como for o sucesso espera-nos ao virar da esquina”.
Era não contar com os perigos da não observância dos conselhos de Calíguala:
“O primeiro dever de um imperador é pagar bem aos soldados; feito isto o mais não tem importância” .
Não era possível negar a existência, nos últimos anos, de um indiscutível progresso humano-económico dos povos portugueses.
Estávamos a cimentar com as populações ultramarinas uma mais profunda consciência de comum nacionalidade, impondo uma rigorosa observância das disposições legais que reafirmavam a estabelecida igualdade de direitos e dignidade entre todos.
A resolução dos problemas de âmbito local estava confiada a órgãos eleitos, de maioria africana.

Na Metrópole e no Ultramar era patente uma efectiva melhoria no que respeita à justiça social.

Como, nestas circunstâncias, provocar uma revolução para satisfazer apetites alheios ou justificar ambições frustradas de medíocres enfatuados de uma oposição ao serviço do estrangeiro?
Ninguém podia crer que fosse possível.

Mas as realidades nacionais não tinham qualquer significado para os socialistas/marxistas que nos princípios de 1973, em Paris, haviam assinado um acordo em que se estipulava a entrega, à Rússia, do Ultramar português.
E para mal do país, no entender dos “capitães”, as perspectivas de grandeza e progresso da sua Pátria não valiam as vantagens do regresso a quartéis para cumprimento, no conchego dos lares e na tranquila segurança das alcovas, as remançosas tarefas rotineiras – com a melhoria dos vencimentos e aceleração das promoções – de um exército sem problemas militares.

O abandono do Ultramar transformou completamente as perspectivas económicas do nosso país.

Sem uma produção de alimentos capaz de satisfazer as exigências mínimas do rectângulo europeu, sem matérias-primas, sem minérios e sem combustíveis, Portugal encontrava-se a braços com problemas que, embora não resolúveis, vão necessariamente obrigar o povo, sobretudo as classes mais humildes, a dolorosos sacrifícios.

A base do progresso económico português – metropolitano e ultramarino – ruiu.
Mais de metade das transacções da antiga área do escudo passou a fazer-se com o estrangeiro num mundo em que todos os países querem exportar, só no fundo da Ásia há um mercado que não nos é hostil.

A esperança de que, pelo petróleo de Cabinda o nosso país pudesse recuperar o atraso económico em que se encontrava face a um Ocidente a braços com uma grave crise energética, desfez-se.

O país foi condenado, pelo crime comunista/socialista da descolonização, a muitas dezenas de anos de carências e de dificuldades.

(*) Fundador, proprietário e comentador do «Jornal Português de Economia e Finanças».
NOTA : Os negritos e itálicos são da nossa responsabilidade.





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