PORTUGAL E OS MILÉNIOS
(*) Rainer Daehnhardt
No milénio a.C. formou-se a Lusitânia, não como nação mas como habitat de um povo com identidade própria.
No 1º milénio d.C. assistiu-se à sua anexação pelo Império Romano, o primeiro candidato à ditadura centrista europeia! A prepotência do invasor não só proibiu qualquer indústria metálica Lusa, impondo uma dependência dos produtos vindos de fora, como até confiscou e destruiu as lusas armas, sentenciando dez mil lusitanos à morte tendo quinze mil sido vendidos como escravos na Gália.
As invasões dos povos cristãos-arianos nórdicos e as dos muçulmanos vindos do norte de África, em nada ajudaram a Lusitânia, que morreu por falta de capacidade de defesa da sua identidade!
O 2º milénio, porém, possibilitou o seu renascimento parcial. Graças ao monge cisterciense São Bernardo, seus cavaleiros templários e teutónicos e ao gene luso, adormecido mas sempre patente na população deste canto do gigante Eurasiático, surgiram as condições para se criarem gerações de heróis que, como Fénix renascida das suas cinzas, criaram a segunda Lusitânia à qual se deu então o nome de Portugal.
Levaram tanto a peito a sua missão que a espalharam fora de portas. Assim, a meio do segundo milénio, a lusitanidade já se encontrava espalhada por todo o globo em benefício mútuo tanto dos portugueses como dos povos e culturas com os quais se entrelaçaram!
A inveja e a cobiça de outros, porém, não suportou o aparecimento de quem subiu por mérito próprio, sem dependência de ninguém! Sentenciou-se então Portugal à morte!
De facto Portugal morreu, mas à maneira de D. Sebastião. Devagar!
Chegou-se à passagem para o 3º milénio e encontramos o Portugal Global esquartejado, a segunda Lusitânia anexada por forças estranhas, a moeda própria em vias de desaparecer, a indústria metálica abandonada, o país dependente de dinheiros e fornecimentos estrangeiros e a memória da sua história conspurcada por interpretações tendenciosas de fiéis servidores de pontas de flechas de interesses estrangeiros!
Cabe à nossa geração a decisão de comodamente assistir ao enterro definitivo da lusa pátria ou de criar algo de novo! Tanto se pode chamar de Lusitânia Três como Portugal Dois porque o gene luso existe e mantém a capacidade de se revelar de forma inesperada contra todas as previsões “lógicas”!
Aproveitar o que se considera positivo das influências vindas de fora e rejeitar tudo o que não se ajusta à lusitanidade tem sido característica patente em todas as gerações deste povo, que é único na sua forma de convivência pacífica com outros povos e culturas e muito tem que para ensinar a este mundo insano.
(*) Rainer Daehnhardt, é o Presidente da Sociedade Portuguesa de Armas Antigas – Portuguese Academy of Antique Arms – cargo homologado pelo governo em 1972, mantém-se nessas funções, representando Portugal em congressos internacionais e dando conferências em muitas instituições europeias, americanas e asiáticas. É autor de dezenas de livros e centenas de artigos, na sua maioria ligados à armaria antiga, à História de Portugal ou à preocupação com a evolução da Humanidade.
Nota 1: Estas poucas linhas, que nem posso classificar como artigo, representam outro dos meus “desabafos”, desta vez em consequência da passagem para o 3º milénio. Data de 3 de Janeiro de 2001. Nota do autor.
Nota 2: É aqui transcrito com a devida vénia e autorização do autor.
Nota 3: Os negritos e itálicos são da nossa responsabilidade.
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