NORMALIZAR A ANORMALIDADE
Um conhecido escritor e jornalista alemão, que nos visitou a quando da nossa adesão à CEE, ora chamada União Europeia – será mesmo união? – escreveu, numa das reportagens que publicou, que uma das coisa que mais o impressionou. durante a sua estadia de duas semanas, havia sido o facto de em Portugal se considerar normal o que em todo o lado constitui anormalidade.
E para ilustrar a sua afirmação, enumerou exemplos muito concretos, retirados do nosso dia-a-dia e mesmo da nossa História.
Os estrangeiros – sabemos – por vezes dizem de nós muitas inverdades, mas essa, apontada pelo patrício da senhora Mentira é uma camisa que nos assenta sem deixar uma ruga.
Efectivamente, somos como somos:
Orgulhosamente únicos em muitas coisas, e sobretudo imbatíveis nessa de normalizar a anormalidade.
Um atributo que, recebido não se sabe bem se dos celtas, dos iberos ou talvez dos velhos lusitanos, nos distingue – negativamente por certo – dos demais europeus.
Tantos anos depois dessa denúncia feita por um estranho, essa prática ainda se mantém, quando o natural seria que, perante tão clara e ajustada crítica – o anormal é quase sempre prejudicial – tivesse havido da parte de alguns de nós, nomeadamente dos que tem responsabilidades no campo social, um esforço no sentido da mudança.
Os exemplos dessa propensão para a consagração da anormalidade frutificam, sobretudo nesta nossa bela e querida cidade-capital. Estão mesmo à vista desarmada:
Eis um deles, por sinal de ocorrência quotidiana e potenciador de prejuízos consideráveis:
Abrir uma vala, “plantar” buracos ou deixar que a chuva os faça nas vias públicas, por onde circulam diariamente veículos e pessoas aos milhares é já de si uma anormalidade.
Tolerável, sempre e quando justificável como inevitável, mas absolutamente intolerável quando fruto ou reflexo de descasos. Nenhuma justificação, porém, deverá aceitar-se, quando tais valas e buracos não são objecto de obras de reparação em tempo razoável ou são atiradas para o rol das chamadas obras de Santa Engrácia.
Pois bem, nesta nossa Lisboa, produzem-se, reproduzem-se e proliferam valas e buracos de todos os feitios e tamanhos, com uma diversidade enorme de tempos de vida, e também de promotores, entre os quais se destacam muitos organismos públicos e os próprios municípios.
Os prejuízos causados por essa “anormalidade” da vida alfacinha são incalculáveis. E deles são vítimas principais as dezenas de milhar de automóveis que diariamente circulam pelas ruas da cidade; os quais não raro restam em poucas semanas, com:
a – Suspensões destroçadas;
b – Direcções prejudicadas;
c – Equipamentos pneumáticos gravemente afectados;
d – Estruturas de segurança fragilizadas;
e – etc… etc…
E isso é tão verdade que, se neste país a Justiça funcionasse, de há muito o nosso Município estaria a contas com ela.
Sobre este grave tema dos “buracos urbanos”, seria interessante ouvir a opinião da nossa Câmara e do seu “maire” ou “sindaco”. Opinião formulada não de forma arrogante e impositiva, mas sim em tom de serenidade, que assuma o “mea culpa”, se for caso disso. Como exigem as regras da convivência em democracia.
(*) Jornalista
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