EMIGRAÇÃO DOS PORTUGUESES (XIV)
(*) José Pegado
Vou dedicar umas linhas contando, por ordem cronológica, como aqui chegamos e como ocupamos o nosso tempo.
Confortavelmente sentado na minha cadeira preferida continuei a recordar por ordem cronológica as minhas reflexões citadas nos artigos anteriores em termos da nossa intraduzível palavra saudade, o passado de:
– UM EMIGRANTE LUSO-SUECO
Finspang onde se encontrava a Administração da empresa bem como as suas instalações fabris era na altura uma cidadezinha industrial muito dentro do modelo de tantas outras espalhadas pela Suecia, ou seja um núcleo de actividade industrial especializado de uma ou duas industrias com importantes mercados nacional e estrangeiro e a que poderia corresponder um corpo de operários, técnicos, engenheiros e administradores na ordem dos 5.000, a que acrescentando as respectivas famílias, as populações de apoio comercial, hospitalar, de serviços técnicos municipais, culturais etc. resultava um total de quinze a vinte mil habitantes.
Estava-se em meados dos anos 50, a Europa tinha saído de uma guerra e estava a reconstruir-se e a Suecia com a sua máquina industrial intacta estava plena de capacidade e produtos para poder responder às solicitações desse mundo faminto de reconstrução.
O início do desenvolvimento industrial de Finspang tem a sua origem em meados do século XVIII, numa altura em que a Suecia era uma potência frequentemente envolvida em campanhas militares, numa época em que as guerras exigiam o uso de canhões em grandes quantidades.
Havia matéria prima em abundância, ou seja minérios de ferro e cobre bem como florestas para fornecer o combustível necessário para os processos de refinação e para as forjas.
Anos mais tarde a Suecia fartou-se de guerras e tornou-se no país pacífico que ainda hoje internacionalmente se reconhece.
Finspang era e ainda é uma cidadezinha com uma população entre 15 a 18 mil habitantes no que se considera o núcleo central e mais uns milhares espalhados por zonas limítrofes do município aquelas de carácter agrícola ou pelo menos com vestígios de uma anterior actividade agrícola e florestal tudo com um elevado nível de conforto e segurança social dos anos 70.
Porém na Suecia, tal como em Portugal, houve um decréscimo constante da população agrícola, um temporário crescimento da população industrial e agora mesmo esta, pelo menos aquela menos sofisticada, entrou em recessão com a concorrência vinda de países de mão de obra mais barata.
Torna-se evidente que o perfil do trabalhador industrial hoje não é o mesmo daquele que facilmente encontrava trabalho na indústria dos anos 60 e 70. Os produtos, os métodos e as ferramentas de produção diferentes e os trabalhadores são operários controlados de processos e máquinas muito sofisticadas e agora não basta ter força, vontade e necessidade de trabalhar para se conseguir um emprego.
As exigências de escolaridade com habilitações específicas aumentou imenso e não basta saber mexer em computadores.
Os grandes problemas a enfrentar eram:
– para Portugal alcançar o comboio da produtividade com o peso de uma inaceitável parte da população ainda sem ou com muita baixa qualificação profissional;
– para a Suécia como manter o elevado nível de conforto e segurança social alcançado durante os anos 70.
(*) Engenheiro Electromecânico formado no IST, em Lisboa; e na Universidade de KYH em Estocolmo.
NOTA: SENADO NEWS achou por bem desmistificar a ideia corrente, de alguns anos atrás, que os emigrantes portugueses, como regra chegavam lá de “mala de cartão”, eram uma fonte de invisíveis para Portugal e regressavam, por força da saudade, construindo nas suas raízes uma casa onde acabavam os seus dias.
Actualmente, pelo trabalho, formação profissional e suas descendências, adquirem estatos privilegiados de não retorno conforme publicamos nesta série de 18 artigos
EDITORIAL
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