O TEMPO
O TEMPLO QUE CORRE...
Para recordistas de 100 metros que correm a mais de 36 km/h ou para esquiadores de descidas superinclinadas de montanha que se deslocam a mais de 100 km/h o tempo que interessa mede-se em centésimos de segundo.
Para outros mais mortais trata-se de enquadramentos em horas e minutos e há também quem não se preocupe com tais preciosismos e viva perfeitamente satisfeito levantando os olhos para o sol para saber a quantos anda, isto é no pressuposto que se veja o sol.
Quem não tem sol inventa um relógio e a partir daí começam os sarilhos.
Os madrugadores que por volta das quatro da tarde sabem que já trabalharam mais do que oito horas e que são horas de almoço tarde ou jantar cedo e os outros que por essas horas acabaram de despertar depois de uma longa noitada, e que coitados ainda não refeitos para enfrentar a sessão nocturna do novo dia, são incomodados para ocupar um lugar no banco de escola ou para actividades inventadas pelos madrugadores.
A invenção Tempo ocorreu nos primórdios da humanidade quando alguns descobriram que o conceito Tempo só tinha significado quando ligado ao conceito divisão de tempo, e quando na linha fluida da sua passagem, o que mais interessava era sobre tal linha colocar marcos e divisórias.
Mediam-se distâncias entre lugares com a três dias de viagem ou seja entre três nascentes do sol.
O tempo bem que existia não se interessa por nós, somos nós que o inventamos.
Tanto os nórdicos como os anglo-saxões, ao contrário dos latinos, usam palavras diferentes quando falam do tempo que passa e quando falam do tempo que faz.
Será esta uma expressão da diferente preocupação com o uso e valor do tempo entre uns e outros?
Mas nas origens agrícolas de todos os povos e independentemente da sua situação geográfica, climática ou cultural o tempo decorre e o tempo que faz foi sempre de grande importância para saber quando semear, quando colher e quanto tempo entre os marcos dos ciclos de vida.
Contudo os dois tempos aparecem relacionados em ambos os seus significados.
Com a acumulada observação dos fenómenos naturais e das suas interligações nasceram os dias como o tempo decorrido entre dois consecutivos nasceres do sol, o mês por observação da lua, a semana por divisão segundo as fases da lua e o ano por duas iguais passagens do sol.
O relógio e o calendário aparecem ambos intimamente ligados à actividade agrícola.
Um outro aspecto do conceito tempo aparece ligado às observações dos limites de existência para plantas, animais e humanos.
Ocorre assim o conceito idade acompanhado das observações sobre tudo aquilo que decorre entre o nascer e morrer.
Nos humanos, às forças sobrenaturais da Natureza, impõe-se uma doutrina de conceitos espirituais sobre criação, divindade, religiosidade e meios de comunicação entre vivos e mortos.
O ciclo de vida pode terminar por diferentes razões: acidente, doença, desgaste…
Mas o resultado final parece não oferecer dúvidas ou opções, é a morte.
O TEMPO QUE FAZ...
Sempre teve grande importância para quem pode e sabe precaver-se contra ele, o que já em si parece indicar haver uma constante e interminável obsessão em saber se chove, se faz frio, se está muito calor.
Estou muito inclinado em acreditar que esta preocupação com o tempo que faz sempre afectou o bicho homem desde que se viu sem penugem de protecção e teve de inventar roupa e chapéu.
Assim, por exemplo no inverno, há que ajuizar comparativamente aos incómodos resultantes da existência de neve, gelo e temperaturas abaixo de zero dos países do Norte ao das costas do Atlântico ao Sul quando fustigadas por temporais e saturadas de humidade.
Uma humidade que sem convite nos entra dentro de casa e por dentro da roupa.
Com a humidade aumenta de tal modo a sensação de frio que chegamos a preferir 10 abaixo de zero na Suécia aos 10 acima de um típico inverno em Portugal.
O tempo que agora faz é diferente… faz o que quer e não se importa com o que a gente pensa…
(*) Engenheiro Electromecânico formado no IST, em Lisboa; e na Universidade de KYH em Estocolmo.
EDITORIAL
Temas e Debates
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