ASSIM VIVEU SALAZAR...
De joelhos perante Deus e de pé diante dos homens.
Humilde com o seu povo, orgulhoso perante o mundo.
De vela ao cadáver de Salazar, fui-me lembrando de muitos acontecimentos relacionados com a vida pública da nossa terra, em que a sua presença foi dominante.
E também de alguns relacionados apenas com o seu modo de ser, que marcou o estilo do governo e da administração e o estilo de uma geração de dirigentes.
Dos que o seguiram e dos que o combateram.
Todos marcados, na sua intimidade mais funda, pelo homem e pela sua acção.
Recordarei aqui duas imagens persistentes.
Numa manhã de domingo, do ano de Angola Mártir, fui visitá-lo ao forte do Estoril.
Como cheguei a pé, não tocaram a sineta que habitualmente chamava para abrirem os portões do caminho de acesso dos automóveis.
Subi a breve escada que ali existe.
Ao fundo do pátio, onde se encontra a capela, as portas desta estavam abertas.
De frente para o altar, a sós com Deus, Salazar cuidava da toalha, e das flores e das velas.
Pensei que não tinha o direito de surpreender esta intimidade.
Regressei vagaroso pelo mesmo caminho.
Pedi para tocarem a sineta.
Quando voltei a subir a breve escada do pátio, já ele estava sentado na sua velha cadeira, mergulhado nos negócios do Estado.
Era a imagem de um homem de fé segura, sabendo que haveria de prestar contas.
A brevidade da vida iluminada pelos valores eternos.
O poder ao serviço de uma ética que o antecede ascende e transcende.
Acrescento outra imagem desse tempo.
Recordo os discursos, as notas, as entrevistas, as declarações, em que sucessivamente definia a doutrina nacional de sempre para a crise da época.
Tudo escrito pela sua mão.
Mas depois, não obstante a urgência e a autoridade pessoal, tinha a humildade de chamar os colaboradores e, em conjunto, discutir, e emendar.
A grandeza natural, de quem pode aceitar os outros, sendo sempre o primeiro.
E assim foi exercendo o seu magistério.
Com fé em Deus e recebendo agradecido os ensinamentos do povo.
Porque nunca pretendeu sabedoria superior à de entender e executar o projecto nacional.
E nunca quis mais do que amar até ao último detalhe a maneira portuguesa de estar no
Mundo, preservando e acrescentando a herança.
O Ultramar foi a última das sua preocupações maiores.
Como se, ao crescer em anos e diminuir em vida, quisesse guardar todas as energias para sublinhar a essência das coisas. Todos os cuidados para a trave mestra.
Doendo-se por cada jovem sacrificado.
Rezando, e esperando que o sacrifício fosse atendido e recompensado.
De joelhos perante Deus e de pé diante dos homens. Humilde com o seu povo, orgulhoso perante o mundo.
Assim viveu, acertando ou com erros, mas sempre autêntico.
Com princípios.
O único remédio conhecido contra a corrupção do poder.
E muito principalmente quando se trata de um poder carismático, como era o seu caso.
Um desses homens raros que a fadiga da propaganda não consegue multiplicar.
Porque ou as vozes vêm do alto ou não existem.
Não há processo de substituir o carisma.
Por isso, também, essa luz, que tão raramente se acende, é toda absorvida pelo povo, o único herdeiro. Soma-se ao património geral. Inscreve-se no livro de todos. Pertence à história. Transforma-se em raiz.
(*) Transcrito do site “A VOZ DO POVO” – Brasil.
NOTA: Os negritos são da responsabilidade de SENADO NEWS.
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