ANGOLA E O CRIOULISMO
Refiro Angola porque, depois de Cabo Verde, é ela a mais crioula de todas as nossas antigas colónias africanas. Chamava-se a Benguela a Capital Crioula de Angola, e era-o.
É vulgar as pessoas confundirem "Crioulidade" com "Miscigenação" ou "Mestiçagem". Erro total. …Pois pode ser ou não ser.
O "Crioulismo" é, actualmente, uma Cultura, sem referência a conceitos raciais.
Não me estou a referir aos dialectos crioulos, mas ao crioulismo cultural.
"Crioulidade" é a vivência em comum, em zonas tropicais, de duas ou mais raças, e suas combinações.
É verdade que, originariamente, o termo Crioulo designava pessoas de pura raça branca nascidas nas colónias.
Depois passou a incluir as pessoas de raça negra, deslocadas para as Américas e Ilhas Atlânticas, bem como as combinações resultantes das duas raças.
E por fim veio a englobar também índios, americanos ou orientais, e seus cruzamentos.
Assim, os "Crioulos", de todas as raças, são, por natural imperativo da História, os "Legitimos Herdeiros" dos antigos "Colonizadores Europeus".
Toda a extensíssima e riquíssima Cintura Tropical do Globo Terrestre, entre Câncer e Capricornio, está, hoje em dia, ocupada por Povos Crioulos.
E, às vezes, é até essa cintura extravasada, no caso da Luisiana, por exemplo, a que chamam o "Creole State" dos U.S.A.
Todas as independências Sul-Americanas foram processadas pelos crioulos.
Bolivar e S. Martin eram crioulos.
E no Brasil foram os crioulos (Os Bandeirantes) que fizeram a ocupação interior, levando-a até aos Andes.
Por "extensão", muitos europeus, versados nos trópicos, normalmente ingleses, alemães ou franceses, chamam a Portugal, pela sua tendência tropical, o País Crioulo da Europa.
O CRIOULISMO ANGOLANO
Porquê uma Ideia de Adopção ( Definitiva e Oficial ) do Crioulismo em Angola?
Parece-me sobejamente comprovado que onde existiam Comunidades Crioulas a passagem politica e administrativa dos Territórios, inerente às descolonizações, se fez em natural ordem e tranquilidade, sem convulsões e destruições, e sem grande prejuízo económico, tendo até, em geral, permitido aos europeus permanecer nesses territórios: O caso de Cabo Verde, ou da África do Sul e Namíbia.
Onde não havia Comunidades Crioulas, como nas Colónias Inglesas, ou onde essas comunidades eram muito pequenas, como as Belgas e Francesas da África central, foi a passagem de poderes feita directamente para o Black Power, com todo um seguimento de trágicas consequências de destruição e genocídio.
É verdade que em Angola, ao tempo da independência, existia uma já forte e consciente Comunidade Crioula, donde afinal provinha o próprio MPLA.
Mas nós portugueses retirámo-nos da Colónia deixando-o em guerra civil contra os outros três movimentos (FNLA, UNITA e FLEC), o que, como é sabido, resultou em 30 anos de catástrofes.
O Crioulismo seria a "Umbrela" que a todos acobertaria.
Porque afinal todos os Angolanos, negros, brancos e mestiços, são na verdade Crioulos.
(*) J. Sá Carneiro
– Licenciado em História pela Universidade Aberta de Lisboa
– Diplomado em Service Marketing Management S.A.M.A. de Johnesburg
– Curso ONC/ONA, 2002/3, Alfândegas
– Despachante das Alfândegas desde 1952, em Angola, e em Portugal desde 1980
EDITORIAL
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