AS NOTÍCIAS EM PORTUGAL

(*) José Pegado,«jjop28@hotmail.com», 2009-06-01»

A população deste país tem sido ensinada a entender a NOTÍCIA como Entretenimento e os mais idosos e os menos distraídos podem facilmente verificar a veracidade desta afirmação pela módica quantia de algumas horas gastas semanalmente com papel e lápis frente ao televisor ou mesmo pela consulta da imprensa diária caso esta ainda esteja circundante e ao seu alcance.
Excluímos da lista, e propositadamente, as camadas mais jovens dos zero aos quarenta e cinco dado que tais elementos raramente terão capacidade, tempo ou interesse para se dedicarem a tais dinossáuricas tarefas.

Temos uma meia dúzia de jornais diários a que se acrescentam semanalmente umas tantas revistas e outros tantos jornais chamados desportivos dedicados à cultura futebolística.
Temos ainda vários canais de televisão, sede de tantos males e acusações mas também o instrumento potencialmente mais efectivo para distribuição informática por ela nos entrar pelos olhos e ouvidos num ambiente geralmente de nossa escolha e pouco ruidoso o que não será o caso de uma sala de aulas para a maioria da classe estudantil.

O preenchimento noticioso diário de notícia/entretenimento resulta de uma colheita fácil e do inteiro agrado dos ouvintes e leitores pela generosa cobertura dada a beliscadelas e diarreia interparlamentares, treinadores e jogadores de futebol, sempre no pressuposto de haver escândalo à vista ou mera suspeita da sua existência.

Note-se que num país com tão grande e reconhecida falta de bons gestores, o tempo na televisão aparece sempre cuidadosamente aproveitado de modo a que ninguém falte uma média de 6 horas diárias para passatempos, concursos, publicidade e telenovelas, no conjunto dos 3 canais de maior audiência.

Tudo indica que os mercados da formação e da cultura são infinitamente menores do que os mercados dos cremes anti-rugas, dos cereais mágicos para emagrecimento e dos detergentes.

O Zé povinho delira com escândalos, sempre gostou de arraial e detestará quem lhe quiser impingir programas ou mensagens de cultura que o horário nobre é para ser respeitado, que nós queremos ver o Gordo todos os dias à tarde antes das notícias das 8, ouvir e ver entendidos da bola logo às notícias e mais tarde a luso-cacafonia de todos a falarem ao mesmo tempo quer eles sejam os deputados da nação ou os chamados sindicais da moda.

Torna-se evidente que as refeições de sucesso são aquelas que melhor correspondem às necessidades e expectativas culturais da população, o que de imediato levanta algumas questões:

Deverá a Comunicação Social assumir alguma parcela de responsabilidade no tocante à elevação dos níveis de cidadania e cultura dos Portugueses?
Não estará ainda suficientemente documentado que um elevado grau de analfabetismo tem graves reflexões na saúde física, mental, económica e cívica de uma população?
Não deveria ser responsabilidade de um Governo e particularmente dos Ministérios de Educação, da Cultura e da Economia zelar pela elevação dos níveis de seriedade que teimamos em ignorar e esconder debaixo do manto roto da Liberdade?
Como é possível haver um Canal RTP2 e uma Antena2 ainda a funcionar?

Onde estão os Portugueses que de manhã se libertaram de Leão, que de tarde atravessaram o Douro, o Vouga, o Tejo e o Sado e empurraram os muçulmanos até terras de Córdoba e que de noite olhando o mar e as estrelas sonharam um sonho impossível?

(*) Engenheiro Electromecânico formado no IST, em Lisboa; e na Universidade de KYH em Estocolmo.
Hoje tem dupla nacionalidade: é um Luso – Suéco.

NOTA1: SENADO NEWS achou por bem desmistificar a ideia corrente, de alguns anos atrás, que os emigrantes portugueses, como regra, chegavam lá de “mala de cartão”, eram uma fonte de invisíveis para Portugal e regressavam, por força da saudade, construindo nas suas raízes uma casa fruto do trabalho e dedicação profissional, onde acabavam os seus dias.

Nota 2: Entretanto os “Ventos”, cada vez mais fortes, passaram a soprar numa outra direcção. Muitos, por força dos seus legados familiares que vão crescendo e multiplicando nos Países que os receberam… e avançada idade... acabam por vender os seus bens em Portugal e juntar-se aos seus no estrangeiro.

EDITORIAL
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