NAVEGANDO NO SEGREDO DAS SECRETAS
Num dos artigos anteriores: «Quem é que nos governa, no jornal “O Dia”08/09/04, foi prometido, no comentário final, revelar mais informações sobre o Clube de Bilderberg nos moldes que se transcrevem: «Por hoje, fiquemos por aqui, Num próximo artigo, a publicar neste jornal, pensamos poder revelar mais informações sobre esse “poder oculto” (...) ou seja, revelar quem o assume, como o aplica, quais os meios que emprega, o seu campo de acção e bem assim identificar os que com ele colaboram». Bem eu gostaria de cumprir essa promessa, nos moldes de pormenor, para poder satisfazer a curiosidade dos leitores que estão a solicitar. O que não é possível satisfazer com a profundidade com que se procura continuar a tratar, desde o seu início, essa epígrafe. A razão é simples. As “dicas” e demais documentos de provas prometidas não me foram concretizadas. As minhas desculpas. Porém, em termos do “conhecimento geral” posso dar conta de alguma coisa sobre essa instituição que, pela discrição com que actua, cria no público a ideia de que é secreta. Nesse sentido vejamos, a seguir, até onde posso chegar.
Antigamente, os que se propunham dominar e governar o Mundo utilizavam invariavelmente a guerra, ou melhor, a luta armada como via privilegiada para a consecução desse desiderato. Foi por isso, por exemplo, que fizeram o corso Bonaparte, o macedónio Alexandre Magno ou romano Júlio César, para citar, de entre tantos, os belicistas que a História nos celebra.
Mas tempos de hoje, porém, a via utilizada é algo diferente. As guerras clássicas, com os canhões a troar e os homens a matar homens, são já tão raras que, quando ocorrem aqui ou acolá – caso daquelas que Bush impôs no Afeganistão e ao Iraque – deixam meio mundo de boca aberta, a exprimir espanto ou protesto, mas em silêncio cúmplice.
Em seu lugar, mas com idêntico propósito, surgiram e têm proliferado métodos de domínio muito mais subtis. Os quais, ao fim e ao cabo, comportam características bélicas semelhantes, mas com a diferença de que, em vez de canhões, ou lanças de outrora, as armas empregadas para consagrar o domínio são muito mais sofisticadas e, outro sim não se ostentam. Daí que não são visíveis aos olhos da maioria. É, pois, esse propósito de invisibilidade que explica a existência, no mundo de hoje, das chamadas sociedades secretas, que, para melhor assegurar o seu sigilo operacional distinguem-se com indumentárias as mais variadas, como a da filantropia, a da solidariedade, a da cooperação e, por vezes, a da religião.
“OS ILUMINADOS DA BAVIERA” – A primeira sociedade secreta que se tornou conhecida nasceu na Alemanha em 1 de Maio de 1776. Foi seu fundador um bávaro de nome Adam Weishaupt, que era, oficialmente, um professor a leccionar Direito Canónico, mas, em privado, lidava com a Política e ambicionava vir um dia a governar o seu país, a Europa e o próprio Mundo de então, como ele próprio se dispôs mais tarde a confessar.
“Ordo Illuminati Germanicus” – em português “Os iluminados da Baviera” – foi a designação sonante atribuída a essa primeira sociedade secreta. E tão sonante que imediatamente se repercutiu pela Europa toda e sobretudo na vizinha França, onde a filosofia do secretismo como arma para alcançar o poder inspirou as primeiras lojas maçónicas, que foram, como se sabe, o epicentro do movimento revolucionário que derrubou a monarquia e, tempo depois, animou Bonaparte na sua frustrada arrancada para o domínio da Europa e do Mundo.
Nesta fase inicial, e como é no domínio público, a luta pelo poder assumiu aspectos violentos, produzindo vítimas de um lado e do outro. Daí, certamente, a necessidade de correcções de comportamento no sentido de fazer valer mais a subtileza e o disfarce, tornando assim mais fácil o caminho do êxito. (
“AS SOCIEDADES DA ACTUALIDADE” – As lojas maçónicas acabaram por ser sol de pouca dura. Um fracasso que talvez se explica pela carência de meios operacionais mais eficazes: é que, nos tempos de hoje, só o verbo não chega, já que sem o apoio económico nada se concretiza.
E assim chegamos às sociedades secretas da actualidade. De entre as mais conhecidas e de seguro as mais poderosas estão localizadas nos Estados Unidos. Que é onde está também centrado o supra-sumo da economia mundial. Quem são elas? Como funcionam? O que desejam? Quem são os seus componentes?
Eis algumas das questões que a natural curiosidade suscita. Mas que, como é óbvio não podem ter uma resposta cabal e completa. Já que, em termos do domínio público, delas se sabe apenas a designação oficial, a localização, a identificação de alguns dos seus quadros e convidados de circunstância, as datas e os locais de reunião periódicas e pouco mais. Todo o resto, como, por exemplo, as matérias discutidas nessas reuniões, as decisões tomadas, e as estratégias definidas se mantém sempre “off the recorder”. Todavia, e porque, como diz o Zé, as paredes às vezes têm ouvidos lá se vai sabendo alguma coisa mais. Uma dessas paredes com ouvidos é, por estranho que pareça um jornal, que se publica com edições regulares, vai para mais de uma década, na capital dos Estados Unidos. Intitula-se “The Spotlight”: a voz da maioria e da resistência à tirania.
Não se sabe como o jornal consegue obter as informações que veicula regularmente, pois é um segredo que ele próprio tem bem guardado. Ao certo, a única coisa que se sabe é que só os integrantes dessas sociedades e os convidados especiais têm acesso aos locais das reuniões, que são invariavelmente vigiados por forças de segurança especiais, que impedem o acesso a qualquer elemento estranho. Daí que haja quem assegure que todas as informações que “The Spotlight” veicula lhe são fornecidas por quem certamente assistiu ás reuniões. Será? Seja qual for a sua origem, inequívoco é que o que o jornal tem publicado não deixa de ter interesse. É pois a ele que recorremos para alinhavar e reproduzir o que se segue.
A mais antigas dessas modernas sociedades secretas é a C.F.R. (The Council on Foreign Relations). Está sediada em New York e foi fundada em 1921, por iniciativa do multimilionário David Rockefeller. Objectivamente, o CFR foi um meio escolhido para obrigar o resto do Mundo a reconhecer a liderança absoluta dos Estados Unidos, que, no final do conflito mundial, havia evidenciado uma esmagadora superioridade em termos militares. No âmbito dessa estratégia, o CFR, logo a seguir á sua constituição, assumiu a iniciativa de fundar a ONU (Nações Unidas), cuja actividade esteve durante muito tempo sob o seu controle, mercê do financiamento que lhe assegurava regularmente. Situação que, na opinião de alguns analistas, ainda hoje se mantém, embora de forma menos clara que nos primeiros tempos.
De acordo com as informações inseridas no “The Spotlight”, nas reuniões regulares do CFR participam, além de personalidades do mundo político, económico-financeiro norte-americano, professores das principais universidades do país, figuras marcantes das cadeias de televisão: ABC, CBS, CNN, NBC, etc; e da imprensa: “Los Angeles Times”, “New York Times”, “Times Mirror”, “Wall Street Jornal” e “Washington Post”; e ainda, dirigentes de grandes empresas comerciais e industriais, fabricantes de meios electrónicos para os média e outros.
“The Bilderberg Group”, outra das ressonantes sociedades secretas dos nossos dias, nasceu em 1954, por iniciativa do príncipe Bernardo da Holanda, fortemente apoiado por elementos da alta finança europeia, entre ao quais os Rothschild da França e os Agnelli da Itália. Não se sabe, ao certo, se a iniciativa surgiu como forma de a Europa se opôr ao domínio norte-americano ou se, ao invés, foi no sentido de concorrer com os aliados do lado de lá, evitando assim mais perdas para a Europa, além das que havia experimentado com a guerra em 1945.
Logo de início, o “Bilderberg Group”, ganhou enorme ressonância graças sobretudo aos “vips” que conseguiu mobilizar para as suas reuniões. Em breve, porém, e na opinião de alguns analistas, essa aura foi perdendo a luminosidade, mercê sobretudo de um caso de suborno em que apareceu envolvido um dos seus líderes – o príncipe Bernardo.
Entretanto, nos “States” e novamente por iniciativa de Rockefeller, viria a surgir em 1973, mais um rebento da “Ordem dos Iluminados”. Ou seja “The Trilateral Commission” que, tal como foi a CFR, foi ideia de Rockefeller. Que, segundo “The Spotlight”, é internacional... (e) ... tem como objectivo a multinacional consolidação dos interesses comerciais e financeiros pelo controlo político do governo dos EUA.
A expressão trilateral foi escolhida para significar que, no rol dos seus membros permanentes e convidados estariam representantes das três zonas, então como hoje, as mais ricas do Mundo: os Estados Unidos, a Europa do Oeste e o Japão. Com a entrada em cena da “Trilateral”, o “Bilderberg” sofreu nova quebra de prestígio, de tal modo que, hoje, quase se pode afirmar que a criatura do príncipe Bernardo funciona, em termos práticos, como uma sucursal da sua congénere norte-americana.
Na “Trilateral”, a dar crédito às informações vinculadas pelo “The Spotligth”, estão quase todos os “vips” que têm por costume participar nas reuniões do “Bilderberg” e do “CFR”; e mais alguns, como Bill Clinton e sua mulher Hillary, Margaret Thatcher; Tony Blair, George Sores, Donald Rumsfeld, Henry Kissinger e surpresa não muito surpreendente (!), antigos e novos membros da Comissão Europeia como: o irlandês Peter Sutherland, os italianos Monti e Emma Bonino, o espanhol Javier Solana e o português António Vitorino.
PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA – País europeu e ademais pertencendo à “Europa dos 25”, Portugal não podia eximir-se a prestar toda a colaboração possível a essa sociedade, onde se agrupa tanta gente importante nos campos da Política, das Finanças e da Economia. E, como não podia, tem-na prestado, quer fornecendo grupos de “vips” nativos, quer aceitando convites para se fazer representar de quando em vez, quer mesmo acolhendo reuniões, tanto plenárias como sectoriais.
Assim, por exemplo, na reunião que o “Bilderberg” teve, de 14 a 17 de Maio de 1998, no Turnberry Hotel de Ayshire (Escócia), estiveram presentes várias personalidades portuguesas, entre as quais Pinto Balsemão, presidente do Grupo Impresa e antigo primeiro-ministro; Vasco Pereira Coutinho, presidente da Holding IPC; Miguel Horta e Costa, vice-presidente da Portugal Telecom; e, Marcelo Rebelo de Sousa, então líder do PSD.
O socialista António Vitorino, quer quando era membro do Governo de António Guterres, quer como comissário europeu, assistiu a várias reuniões do grupo; e a social-democrata Teresa Patrício Gouveia, que foi MNE do Governo de Barroso, participou, como convidada especial, na reunião do mesmo grupo que, há cerca de quatro anos, decorreu em Chateau du Lac, nos arredores de Bruxelas. Para além de tudo isto, pasme-se, Jorge Sampaio faz parte de uma longa lista do livro “Democracia e Secretismo”, página 287, de Oswald Le Winter, que em 1965 ingressou na CIA e serviu até 1985 onde chegou a ser Chefe do ITAC.
Portugal também já hospedou, como se disse, algumas conclaves do Bilderberg-Trilateral. Uma delas realizou-se, no final da década de 90, na Quinta da Penha Longa, nos arredores de Lisboa. Tornou-se muito falado em alguns maios políticos do Exterior, precisamente porque nele foi aprovada uma resolução, obviamente mantida sob sigilo, que convidava à utilização de meios no sentido de boicoitar negociações secretas de paz que então decorriam em Angola, entre o Governo e a Unita, que haviam sido sugeridas pelo Papa João Paulo II em mensagens pessoais enviadas ao presidente Eduardo dos Santos e a Jonas Savimbi.
Uma outra reunião de correu no Porto em Outubro de 2003 e dela se soube algo mais que nas antecedentes, já que a organização se permitiu fornecer “Press Release” com o relato de alguns factos. Daí ter-se sabido que a presidência esteve a cargo do irlandês Peter Sutherland, colaborado pelo prof. Braga de Macedo, ambos membros do Grupo Europeu da Trilateral; e que durante os trabalhos, intervieram os portugueses: Durão Barroso, então nosso primeiro –ministro, que deu conta o que estava a fazer o seu governo; o comissário europeu António Vitorino, que informou sobre a criação de uma agência para a gestão de fronteiras da União Europeia; e o socialista João Cravinho, que argui o governo de Durão de «andar a reboque da Espanha» na questão do TGV.
Além de figuras políticas e de gente do mundo empresarial, têm igualmente assistido às reuniões da Bilderberg-Trilateral alguns jornalistas lusos, convidados presumivelmente pelo seu bom relacionamento com os “vips” locais. Estão eles perfeitamente identificados, mas omitimos os seus nomes, pois, em nossa opinião, os jornalistas existem para veicular notícias e não para serem objecto delas.
COMENTÁRIO – E para terminar, mais uma observação que entendo pertinente: ser-se membro da Bilderberg ou da Trilateral não é um desprimor. Bem ao contrário: é uma honra, além de que sempre proporciona um acréscimo ao “pedigree social”, o que, nos tempos de hoje, é meio caminho andado para êxito social.
Publicado no jornal “O Dia” de 05 de Janeiro de 2005.
(*)Coronel de Cavalaria
1 Comments:
Merete Eldrup, um dos directores do jornal que publicou o cartoon, o Morgenavisen Jillands-Post, é esposa de Anders Eldrup, presidente da DONG, companhia de gás dinamarquesa e participante do secretivo Grupo Bilderberg nos últimos 5 anos.
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