José Maria de Mendonça Júnior, Coronel de Cavalaria do Exército Português.

Vivência Militar: Portugal, Angola, França, Alemanha, Macau e Timor.

Condecorações: Serviços Distintos e Relevantes Com Palma, De Mérito, Avis, Cruz Vermelha, De Campanhas.

Vivência turística: Madeira, Açores, Espanha, Baleares, Canárias, França, Alemanha, Inglaterra, Italía, Suiça, Malta, Brasil, Paraguai, Marrocos, Moçambique, África do Sul, Zimbabwe, Indonésia, Singapura, Austráia, Filipinas, China.

Idiomas: português (de preferência), Espanhol, Francês, Inglês.

Com o fim de dinamizar a solidariedade através de comparticipação de cidadãos com inesquestionavél integridade de caracter.
 
Esta tese é enviada por http://senadonews.blogspot.com/ podendo ser correspondida pelo e-mail senadonews@gmail.com ou pelo correio postal: União Ibérica, Av. Bombeiros Voluntários, 66, 5º Frente, 1495-023 Algés, Portugal; Tel: 00 351 21 410 69 41; Fax: 00 351 21 412 03 96.

Pesquisá pelo google.pt ou pelo sapo.pt

Wednesday, August 31, 2005

ORIGINALIDADE À ITALIANA


(*) Belmiro Vieira

A Itália é, seguramente, o país da Europa e quiçá mesmo do Mundo, onde o culto da beleza e da originalidade ganha mais adeptos. No que concerne à beleza, as provas são múltiplas e desvairadas e testemunham-se nomeadamente no que ela nos oferece em termos de obras de arte, monumentos civis e religiosos e indumentária tanto para mulher como para homem. E isto para citar os sectores onde ela é mais evidente.

Quanto à originalidade, ela é visível no dia-a-dia dos seus cidadãos, documenta-se em muitas produções teatrais e cinematográficas e tem o seu expoente máximo nessa espectacular cidade construída sobre estacas e no meio de um lago e que dá pelo nome de Venécia.

Desses dois atributos, seguramente que é a originalidade a que está hoje mais vulgarizada entre os transalpinos. E tão vulgarizada que, em termos práticos, não passa um dia sem que de lá, via agências noticiosas, nos cheguem relatos de episódios ou factos que jamais aconteceram ou acontecem noutros países. Mais uma prova do que acima se afirma tivemo-la há poucos dias, ao ler no teletexto de TV romanas transmitidas via satélite duas notícias que a seguir reproduzimos de forma suscinta.

A primeira: o presidente de Lesta e Signa, de uma pequena vila de 18 mil habitantes, localizada a escassos quilómetros de Firenze, fez construir, a expensas do município, uma casa verdadeiramente especial, melhor dizendo, uma casa pré-matrimonial.

A qual se destina a ser oferecida gratuitamente a parelha de jovens que pretendem casar, para nele realizarem uma experiência de vida comum pré-matrimonial, durante cerca de quatro meses, no máximo. Finda a qual deverão decidir se devem ou não dar o laço oficial. Explicou o síndico que, por via dessa convivência pré-matrimonial se evitarão por certo muitos casos de separação ou divórcio. Será? Perguntamos nós.

A segunda notícia procede de Roma e relaciona-se com uma sentença proferida pelo Supremo Tribunal italiano, num caso de presumível “agressão e obscenidade”.

Tudo se passou em Venécia, a cidade dos canais e das gôndolas, onde o dono de um estabelecimento comercial se atreveu a agarrar e a apalpar o trazeiro de uma das suas empregadas, no momento em que ela, inclinada sobre um dos balcões, estava a atender um cliente.

Zangada naturalmente, a empregada confiou o caso a um advogado, que por seu turno, o endereçou a um dos tribunais venezianos. A sentença não tardou: 18 meses de prisão para o autor da palmada e das apalpadelas, por prática de “acossa sexual”.

Mas o condenado, não se conformando, recorreu para o Supremo de Roma, que acabou por o absolver, alegando, que dar palmadas e apalpar as nádegas de uma dama, mesmo contra a vontade dela, não é crime. Já que isso não prova que tenha havido intenção de “praticar um verdadeiro acto libidiniso.
Tão esdrúxula sentença encheu naturalmente de júbilo e não só os machistas locais, do mesmo modo que suscitou repulsa e veementes manifestações de protesto por parte de inúmeras donas, em particular as que têm lugar no Senado e no Parlamento de Roma.

Por nós, o comentário que o caso sugere é este: o patrão dos nossos dias, que já tem tudo a seu favor – pagar mal; discriminar salários a seu bel- prazer; aumentar horas de trabalho; reduzir tempo de férias etc; – também pode, quando lhe der na gana, apalpar o trazeiro a quem está a seu serviço?
Se pode, está na hora de fechar de vez os tribunais.

(*) Jornalista

Tuesday, August 30, 2005

A MORALIZAÇÃO DO DESPORTO - Perguntas que não ofendem


(*) Belmiro Vieira

A Santa Sé decidiu criar um departamento, destinado a estudar e propor medidas, com vista a promover a ética na actividade desportiva. Departamento que, sob a designação de «Igreja e Desporto», funcionará adistrito ao Conselho Pontefício para o Laicado.

A iniciativa do Vaticano foi tornada pública – recorde-se – pouco tempo depois de uma ocorrência, que agitou os meios políticos e desportivos italianos. A qual se consubstanciou na decisão do governo italiano, presidido por Sílvio Berlusconi, ter vetado uma operação da Polícia Fiscal, que tinha como objectivo devassar os «dossiers» contabilísticos dos principais clubes do País, entre os quais o AC Milan, de que “Il Cavalieri” é dono, com vista a comprovar casos de fuga ao pagamento de impostos.

Fontes próximas do Vaticano asseguraram, entretanto, que a criação desse departamento nada tem a ver com a proibição imposta pelo governo italiano, antes foi inspirada por inúmeros casos de desvirtuamento que se tem registado na actividade desportiva, à escala mundial.

Entre nós, ou melhor, aqui em Portugal, a actividade desportiva não é nada exemplar, sobretudo em alguns sectores, como o futebol.

Não somos nós que o afirmamos, mas sim pessoas, com o saber da experiência feito. Como por exemplo, a Dra. Maria José Morgado, antiga Sub-directora da PJ, que afirmou claramente que o futebol era um mundo de negócios sujos, em que o desporto se misturava com a política. Afirmação feita de uma forma tão clara e inequívoca, que surpreende que até hoje ninguém, mas absolutamente ninguém, tenha pegado nas suas palavras, para ao menos ordenar uma investigação séria.

E porquê? Poderão argumentar que nesse particular, está em curso a «operação apito dourado». Ao que parece outros contrapõem assegurando que o “apito dourado” serve apenas para dourar a pílula. Será?

(*) Jornalista

Thursday, August 25, 2005

DESTRUIÇÃO SISTEMÁTICA DE PORTUGAL


(*) Carlos Galvão de Melo

PORTUGAL
ATACADO
EM
TRÊS
FRENTES:



TERRITÓRIO: florestas, culturas e povoações estão a ser devoradas por incêndios gigantescos que na sua marcha triunfante, incontrolável já consumiram vidas humanas.

SEGURANÇA NACIONAL: a inconsciente ou conscientemente criminosa decisão de liquidar a Base Aérea da OTA, Unidade Escola onde são preparados os milhares especialistas que vão integrar a base operacional da Força Aérea.

ECONOMIA: a decisão de construir novo Aeroporto Internacional não necessário e mal situado; bem assim a substituição de algumas ligações ferroviárias actuais por comboios de altíssima velocidade: inúteis em território onde a máxima distância é de 800km.

São estes alguns dos crimes que caracterizam o trágico panorama actual e próximo futuro que trás muito preocupados e indignados os portugueses, mas parece ser coisa de somenos importância para o Primeiro-ministro, pois que, tranquilo e feliz, achou este ambiente o momento perfeitamente oportuno para levar a família a férias no Kenya.
O mesmo acontecendo com o Presidente da República que, estando do antecedente em férias, apenas as interrompeu por algumas horas para condecorar, não faço ideia a que propósito, um chefe de banda musical ligeira que se permitiu apresentar-se perante o presidente de chapéu na cabeça, assim se mantendo durante a cerimónia de imposição da medalha, pois era maior a sua preocupação de garantir a imagem publicitária que assumir atitude de respeito perante o mais alto representante da Soberania Nacional: respeito que o Dr. Jorge Sampaio não achou necessário impor.

Esta “gaffe” foi a única justificação para interromper férias: fogos, Base Aérea, Caminhos de Ferro, bombeiros mortos ao serviço de Portugal, nada mereceu uma atitude, uma palavra, uma ideia , uma decisão!

Perante o desconcerto que vem aniquilando o País, embora sem grande convicção, escrevi ao Presidente da República uma pequena carta, em 9 de Agosto do corrente ano, manifestando certa esperança na sua intervenção, carta a que juntei cópias dos vários artigos expostos na Internet.

Foi tempo e prosa perdidos : o tempo passou e nada da parte do Presidente: nem um cartãozinho de agradecimento como era hábito do ditador Salazar!

Porque a minha lealdade e obrigações são, antes de tudo, para com a Nação e, só depois, para com o Presidente, entendi dever dar a conhecer a minha diligência: aqui vai a carta, precedida dos comentários acima e outros que acrescentarei no fim.

A Sua Excelência
O Presidente da República
Dr. Jorge Sampaio

Senhor

Perdoe Senhor Presidente o atrevimento de me dirigir directamente a V. Exa. mas depois de vinte e cinco anos de tentativas infrutíferas no sentido de se criar em Portugal uma organização séria e eficaz contra incêndios , só me resta, a mim e provavelmente a todos os portugueses, uma esperança: a intervenção directa do Presidente da República.

Na origem dos incêndios, umas vezes estão criminosos, outras vezes causas naturais.

Porém, na manutenção, multiplicação e propagação destes incêndios estão interesses humanos que deles vivem e actuam em plena liberdade e segurança que a irresponsabilidade e a inércia de certos políticos lhes tem garantido: inércia e irresponsabilidade mas não só.

Julgo que V. Exa. Senhor Presidente ficará elucidado com a leitura dos artigos publicados na Internet.

Aproveito para juntar o comentário, que me parece justo e pertinente, acerca da incompreensível ideia de destruir uma Base Aérea em pleno funcionamento para no mesmo local edificar um Aeroporto civil não necessário e mal situado.

Se V. Exa. o entender útil estou às ordens para acrescentar informação ou prestar esclarecimentos sobre o que consta nos artigos.

Respeitosos cumprimentos



Passados mais de trinta anos de inércia, incompetência e corrupção aí está a solução: chapéu na mão a mendigar a caridade da Europa. Sempre generosos, a Espanha, a França, a Itália e a Alemanha desde logo prometeram acudir enviando aviões – provavelmente aqueles aviões que os sucessivos governos de Portugal têm recusado adquirir.

Sem menosprezar a generosidade e prontidão destas Nações amigas, não podemos esquecer que a virtude do avião contra incêndios, está, entre outros, nos seguintes factores:
Capacidade de transporte, facilidade e rapidez de reabastecimento;
Tripulações bem familiarizadas com as áreas onde poderão ser chamadas a actuar, o que só se consegue com treino adequado fora da época dos incêndios o que evidentemente exclui tripulações estrangeiras chegadas à última hora ou como tem sido prática, chegados depois da última hora.
Prontidão que permita actuar enquanto o incêndio é pequena fogueira, o que não se coaduna com alugueres tardios: pois que quando o fogo atinge as dimensões que vem atingido em Portugal nenhum avião ou outro meio humano consegue vencer as chamas: elas extinguem-se por si quando já nada há para arder: o que parece ser objectivo dos nossos políticos: esperar que Portugal arda completamente.

Mau grado a boa vontade das Nações amigas os Srs. do governo têm de convencer-se que a tragédia destes incêndios têm de ser resolvidas de dentro para fora, adoptando soluções definitivas, permanente, eficiente, e não de fora para dentro com arranjos pontuais, tardios, incompletos, caríssimos, que pouco ou nada podem fazer.

A lealdade para com a Nação, como já disse e repito, sobrepõe-se a qualquer amizade ou respeito devido a quem quer que seja, pelo que me permito um conselho final:

«se V. Exa. Senhor Presidente da República, bem assim o Primeiro-ministro e restantes membros do Governo não compreendem o que desde há muitos anos, exaustivamente, venho expondo, acerca do flagelo DA DESTRUIÇÃO SISTEMÁTICA DE PORTUGAL só têm uma saída: demitam-se».

(*) General Piloto Aviador com o Curso Complementar do Estado Maior do Exército.

Monday, August 22, 2005

COMENTÁRIOS DE UM CIDADÃO LUSO-SUECO


(*) José Pegado, escreve a (**) Mendonça Júnior

Acabo de receber uma interessante carta de um Grande Amigo de Juventude que emigrou para a Suécia em 1954 e frequenta com assiduidade o nosso querido país para matar saudades. Reproduzo um extracto da sua mensagem, que considero muito oportuna, e que sintetiza, em poucas palavras, o que pensa sobre a idiossincrasia, da generalidade dos portugueses, em termos do “conjunto das disposições fisiológicas de cada indivíduo e o seu reflexo subjectivo que dá às suas empresas ou associações”.

Assim rezam os seus comentários:
«Organização poderá ser considerada como um derivado de alguns conceitos anteriores em que o Organizador usando conhecimentos adquiridos através de análise do Trabalho e da Produção, alcança resultados graças às suas qualidades de abstracção, iniciativa e chefia. Os Portugueses, que em tempos passados foram capazes de organizar e realizar projectos complexos e de tão grande envergadura que muitos analistas as comparam às façanhas realizadas na era espacial por russos e americanos, parecem hoje incapazes de idealizar e realizar projectos de real significado e exceptuando um ou outro brilhante individual em áreas científica, empresarial ou desportiva.

Temos falhas graves na nossa sociedade:
– Falta-nos a coragem para diagnosticar e falar do problema fundamental da sociedade Portuguesa.
– Falta-nos a capacidade para definir e realizar projectos base para a escolaridade e para a educação profissional. Temos doutores a mais. Falta-nos os executivos profissionais e falta cabeça.
– Falta-nos a capacidade associativa necessária para definir a Escolaridade como Objectivo Nacional.
– Falta-nos a capacidade associativa necessária para retirar poderes a quem abusa deles e nada faz.


As liberdades alcançadas passados que são 30 anos continuam a produzir desinformação e grande parte da população operária não consegue entender que as razões que um dia levaram empresas estrangeiras, a estabelecer unidades de produção em Portugal, são exactamente as mesmas que hoje levam essas empresas a mudarem-se para países do Leste, para o Sudeste Asiático ou para a China. Tais empresas enquanto cá estiveram 20 ou 30 anos pagaram salários e os empregados descontaram para a Segurança Social.

Pergunta-se: qual a razão do alarido e da gritaria histérica junto aos portões das fábricas fechadas e em vias de mudança?

– Será que o emprego se tornou um direito adquirido?
– Será que um empresário terá que manter postos de trabalho independentemente das flutuações do mercado e/ou da baixa produtividade?
– Será que a empresa é um moto contínuo e que o empresário não tem opção para um dia dizer basta, estou farto, quero ir pescar?

Onde se encontram acumulados os descontos feitos para o Fundo do Desemprego?

A economia Portuguesa está de tanga e toda a Europa sabe disso. Por cá o Governo parece saber resolver problemas de défice orçamental do Estado levantando os impostos e reduzindo as pensões e quando o Ministro das Finanças não alinha em propagandas eleitorais em que prometem um novo aeroporto e comboio de alta velocidade, então a solução governamental é simples, corre-se com o ministro e arranja-se outro.
Continuo sem saber quem na realidade está a pagar as contas da construção de 10 estádios de futebol em 2004.

Estou a tornar-me resmungão e queixoso e o melhor deverá ser abandonar o tema Portugueses e procurar desenvolver o meu discurso noutras áreas em que os méritos e as culpas me possam ser directamente atribuídas».

(*) Engenheiro Electromecânico formado no IST, em Lisboa; e na Universidade de KTH em Estocolmo.
(**) Coronel de Cavalaria

Saturday, August 20, 2005

Chegou o nosso Primeiro


(*) Fernando Xavier de Brito

Foi com muita atenção que escutei o discurso do Eng.º José Sócrates após a sua chegada do Quénia e, principalmente, a forma como reagiu às críticas da oposição. Realmente tem toda a razão o nosso Primeiro quando diz que aquelas atitudes não são próprias de políticos, mas sim de politiqueiros…
É verdade senhor Ministro. Infelizmente nós não temos Políticos à altura. Temos isso sim politiqueiros.

Agora se me permite senhor Ministro, eu que não sou Político e muito menos politiqueiro, mas sim um velho militar na reforma e um cidadão deste País, tenho a dizer-lhe que também não aprovei a sua retirada para férias e explico as razões:

– Em primeiro lugar porque ainda sou do tempo em que os Militares só gozavam férias, quando não fazíamos falta ao Serviço. Por vezes passavam-se anos sem terem férias… O que não sucedia com os funcionários públicos… E, neste momento grave que atravessamos, o Senhor devia estar presente. O Serviço e as Obrigações estão em primeiro lugar.
– Por outro lado, há o aspecto moral. Acha bem senhor Primeiro-Ministro que, depois de ter pedido tantos sacrifícios aos portugueses, não esteja presente quando eles estão sofrendo os horrores dos fogos florestais, vendo desaparecer a maior parte do seu património, as suas casas e por vezes familiares? Disse V. Ex.ª que deixou o nº2 do seu Governo a substitui-lo a quem competia também a responsabilidade dos fogos florestais. Tem de concordar que isso é uma desculpa tola. O povo chama a isso: “Desculpas de mau pagador…”

Entretanto, e muito a propósito, anote na sua agenda secreta, para não esquecer: o “seu” Ministro António Costa aproveitou a sua ausência para ocupar o seu lugar… Mais ainda, deu-lhe “ordem” de poder continuar a ficar lá longe. Cuidado Sr Primeiro-Ministro José Sócrates: o poleiro não é eterno, mesmo quando é “pau sujo de galinheiro”.

– O Senhor é o Chefe do Governo. O dever de um Chefe é dar o exemplo. Que melhor exemplo podia V. Ex.ª ter dado a este Povo, se fizesse o sacrifício de interromper as suas férias e estar presente acompanhando-o na sua desgraça?
– Qual a autoridade moral de um Chefe para pedir sacrifícios, quando ele próprio não faz o sacrifício de abdicar das suas férias quando o seu Povo está passando por momentos tão difíceis?

Tenha paciência nosso Primeiro. Os politiqueiros, mesmo sendo politiqueiros neste momento estão cheios de razão.

Só quando se fazem sacrifícios, seremos capazes de compreender o que custa aos outros, quando lhes pedimos que os façam. Faça também alguns sacrifícios, nosso Primeiro, para que depois os possa pedir.

(*) Coronel de Cavalaria

Thursday, August 18, 2005

INUTIL MAS CARO: COMO CONVEM À CORRUPÇÃO


(*) Carlos Galvão de Melo

Nas semanas que precederam a actual, escrevi três artigos sobre o crime continuado e sustentado que há mais de 30 anos tem estado, e continua, na origem e intensidade dos fogos que vêem sistematicamente devastando Portugal; e também um outro artigo acerca da intenção governamental de destruir a Base Aérea Nº. 2, situada na OTA, que é uma unidade em plena actividade, essencial ao perfeito funcionamento da Força Aérea no cumprimento da sua missão nacional, para edificarem um aeroporto não necessário e muito mal situado.

Parece que esses meus comentários foram bem compreendidos pelos bons portugueses, que ainda os há e agora pretendem que eu elabore crítica idêntica à cerca do comboio ultra rápido que se pretende venha a substituir o actual. Eu não disse que não mas, a verdade é que para esta questão não possuo conhecimentos nem experiência que me permitiram abordar, muito à vontade, os fogos, a Força Aérea e a Aeronáutica civil. Também não disponho de informação fidedigna quanto a custos, dificuldades e tempo para substituir a actual rede ferroviária pela nova.

Mas posso e é o que vou fazer, comparar os benefícios de tal meio de transporte com as carências ainda por resolver e que tanto afligem os Portugueses. Por muito rápida que venha a ser, na prática, bem analisado, este comboio ultra rápido, conseguirá economizar meia hora no trajecto mais longo. Comparemos então com as carências que impedem Portugal de se organizar como deve e progredir como é esperança angustiante da maioria da Nação.

Será que essa meia hora vai permitir recuperar a autoridade perdida há mais de 30 anos, sem a qual os portugueses têm mal sobrevivido em completo caos, onde os que mandam mandam mal e os que deviam obedecer fazem ouvidos moucos perante leis e directivas que não aceitam?

Será que essa meia hora vai permitir reduzir os 800.000 funcionários públicos para um número compatível com as dimensões e reais necessidades do País?

Será que essa meia hora vai permitir acabar com a prática indigna de usar as Polícias como bode expiatório das asneiras dos políticos, e reduzi-los à nobre missão de garantir a ordem e segurança interna da Nação?

Será que essa meia hora vai economizar uma elite reduzida de empresários a fazer progredir as suas indústrias acrescentando postos de trabalho capazes de absorver os milhares de portugueses sem pão e sem dinheiro para sustentar a família e educar os filhos?

Será que essa meia hora irá resolver a situação escandalosa, anti humana, que é a dura realidade de, na grande Lisboa, vegetarem 13.000 famílias sem casa enquanto permanecem desocupadas 500.000 casas?.

Será que essa meia hora irá substituir a frota aérea contra incêndios, vital à salvaguarda das culturas e dos povoados dispersos pelas serras e vales deste encantador País, vai finalmente ver a luz do dia, em consequência da meia hora ganha no transporte ferroviário?

Será que essa meia hora vai acelerar o eterno julgamento dos pedófilos? Ou vai arranjar espaço nas prisões que em 1974 mal chegavam aos 2.000 reclusos e, agora, diz-se, ultrapassa os 14.000?

Será que essa meia hora vai resolver o escandaloso défice acerca do qual todos mentem?



São leis que se inventam e não agradam a ninguém:
«São falências fraudulentas de que muitos patrões não prestam contas nem cumprem os mínimos impostos pelos mais simples sentimentos humanos com relação aos trabalhadores despedidos».
«São os acidentes nas estradas a que nenhum governo tem coragem de pôr cobro».
«São as dezenas de milhares de professores não tratados com a consideração devida ou simplesmente desempregados por não colocados onde fazem falta, a seu prejuízo e muito mais ainda a prejuízo da gente nova que resulta mal preparada para o futuro».
«É o escândalo dos ordenados de topo pagos por excesso a quem não presta e o escândalo dos ordenados mínimos que não tiram da miséria milhões de homens e mulheres».
«É a venda de património para iludir a verdade das contas».
«São as directivas de rigor desde logo furadas por aqueles a quem compete o exemplo».
«E tantas tantas mais carências que não cabe aqui mencionar».

Não será tudo isto muito mais importante e urgente solucionar que duplicar a velocidade de comboio em território tão pouco extenso: 800 quilómetros do extremo Sul ao extremo Norte?

E para terminar por agora… Caros senhores do governo, resolvam ou pelo menos tentem, resolver o que é vital para os portugueses, e depois quando tudo estiver resolvido, se vier a ser resolvido, então vamos aos luxos: carruagens recheadas de tudo o que é conforto rolando ao dobro da velocidade actual.

Construído antes do tempo esse comboio fantasma nascido da imaginação ignorante e ansiosamente esperado por aqueles que da corrupção tiram seus proveitos só vai produzir duas consequências: qual delas a mais nefasta:
– Criação de nova e largamente demensionada área de corrupção ao movimentar milhões;
– Agravamento do caos já existente por alargamento dos transportes públicos, o que fatalmente há-de acontecer durante os anos que vão demorar as obras de substituição ou reconversão das infra estruturas ferroviárias.

Até para V. Exa. Sr. Primeiro-Ministro: quando no futuro decidir abandonar o País por não poder suportar o calor dos incêndios, de que V. Exa. é parte muito responsável, desde já me atrevo a apostar que o acréscimo de velocidade do super comboio não o fará chegar mais cedo ao Kénya… ao safari que não o “safará” das justas críticas de que já é alvo.

Não tenho dúvidas de que esse super comboio, em Portugal, será completamente inútil.

MAS CARO: COMO CONVEM À CORRUPÇÃO

“Os espíritos de primeira ordem, que produzem as revoluções, desaparecem; os espíritos de segunda ordem que tiram proveito delas, permanecem”.

Chateaubriand

(*) General Piloto Aviador com o Curso Complementar do Estado Maior do Exército.

Wednesday, August 17, 2005

O GRANDE CIRCO


(*) Fernando Xavier de Brito

Desenganem-se aqueles que julguem que me vou referir ao livro de Pierre Closterman com o mesmo título ou ao outro seu livro os “Fogos do Céu” que, juntamente com os três livros de Jean Lartéguy “Os Centuriões”, “Os pretorianos” e os “Mercenários” muito contribuíram para a preparação moral dos Militares que foram chamados a pegar em Armas em defesa do Território Pátrio. Note-se que quando digo preparação moral, não me quero referir a criar coragem, pois que muitos de nós fomos voluntariamente. Quero, isso sim, referir-me ao que nos viria a suceder após finalizadas essas Campanhas em consequência da incompetência dos políticos…

O grande circo a que me refiro é outro. Também não é daqueles em que pagamos para nos irmos divertir com os nossos filhos. Refiro-me àquele que pagamos para que se divirtam à nossa custa e sacrifiquem o futuro dos nossos filhos. No circo de que vos falo ao fim de duas ou três tournées o pessoal que dele fazia parte tinha direito à reforma por inteiro e mais uns tantos ordenados por cada ano de serviço, para se adaptar à vida comum… Isso parece que acabou, os especialistas que o digam. Porque para nós, militares, temos outro conceito de servir. Tal como disse Mouzinho de Albuquerque:

“…todo o trabalho despido de interesse pessoal entra nos deveres da profissão. Trabalho gratuito sempre, porque o vencimento do militar, seja pré, soldo ou lista civil, nunca é a remuneração do serviço, por não haver dinheiro que pague o sacrifício da vida.”

Contudo, há uma coisa que é cobiça, outra que é justiça. Há alguma comparação entre o funcionário público com os agentes da PSP, guardas da GNR ou militares dos três ramos das Forças Armadas?
Se há digam-me. Por que será então que os funcionários públicos podem fazer greve e manifestarem-se e os militares não?

Disse o ministro da defesa que os militares, dado o seu estatuto, não se podem manifestar. Então onde está a democracia e a liberdade de expressão tão apregoada? Não é para todos?
O senhor ministro da defesa já viu algum funcionário público a fazer serviços de 24 horas seguidas? Estar de serviço em domingos e feriados e não receber horas extraordinárias? Qual é o desgaste físico do funcionário público comparado com o de um agente da PSP ou o de um militar da GNR a ter de fazer oito horas de patrulhas durante dia ou de noite, faça frio ou faça sol? Por favor diga-me Sr. Ministro quantos funcionários públicos já morreram em consequência do serviço? E quantos Agentes de Segurança já morreram fruto do risco da profissão? Acha que eles não têm razão em quererem uma idade de reforma diferente?

Há uns anos, atrás fazia-se grande escarcéu porque os militares tinham a gasolina mais barata cerca de três escudos, mas o que tem piada é que ninguém falava dos muitos civis, e não eram poucos, que por estarem em serviço em estabelecimentos militares, beneficiavam também dessa regalia. Ninguém referiu que os empregados da PT tinham telefone mais barato nem dos funcionários da EDP em relação ao consumo da energia. Dizem que casa onde não há pão…

Senhores políticos pensem na frase de Abraham Lincoln: “Pode-se enganar metade do povo todo o tempo e pode-se enganar metade do tempo todo o povo, mas nunca se pode enganar todo o povo todo o tempo.” Olhem que o povo anda a ser muito enganado…

Não concordo com a existência de organizações sindicais nas Forças de Segurança e muito menos nas Forças Armadas mas, infelizmente, compreendo…

É que antigamente, era ponto de honra para um Chefe e para mais, se fosse Militar, defender os interesses dos seus subordinados hoje, eles não têm Chefes que os defendam.

(*) Coronel de Cavalaria

ATACAR O IRÃO (I)?


(*) MENDONÇA JÚNIOR

Em 30 de Setembro de 2004, publiquei no “O Dia” enquadrada numa série de artigos, “OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS”, uma crónica, de Yussef M. Ibrahim, editada nos Estados Unidos da América. Referia-se ela às declarações de George W. Bush sobre um possível “ataque militar ao Irão”. Declarações essas que fizeram “Caixa”, em 13 do corrente mês, nas notícias transmitidas pela televisão mundial.

Youssef M. Ibrahim – foi um conceituado correspondente do Médio Oriente para “The New York Times” quando editou aquela crónica nos “States”, em 25 de Agosto passado, sob o título:
“Ameaças podem conduzir os EUA para uma guerra que não deseja e para a qual não tem recursos”. Os seus comentários abordam pontos cruciais, com reflexos para a estabilidade, cada vez mais degradada: Ocidente-Oriente e que, aqui, se reproduzem na integra:

– É o tempo errado para os EUA atacar o Irão, criando um novo inimigo, na mais populosa e dominante força militar e cultural do Golfo Pérsico. É para isto, exactamente, que a administração Bush se está a orientar. Nas passadas semanas, funcionários da administração Bush, incluindo a conselheira da segurança nacional Condoleezza Rice, disseram que usariam quaisquer meios para parar o Irão de prosseguir planos para construir armas nucleares. Nesse sentido provocam fugas de informação, para a Comunicação Social, para bombardear zonas industriais no Irão incluindo o reactor nuclear Bushehr.

– A resposta do Irão foi rápida. O general Mohammad Baqer Zolqadr, o comandante da Iran’s Revolutionary Guards Corp, disse que se forem atacados o Irão “retaliaria em toda a parte”. Para alem disso o ministro da defesa, Ali Shamkhani, avisou que o Irão mantem o direito de opção de ataques preventivos para evitar um ataque às suas instalações nucleares. Como seria atacar Israel em 1981 – as suas instalações nucleares – o que virtualmente provocaria o alargamento da guerra no Médio Oriente.

– Nada uniria mais os iranianos moderados aos duros do que um ataque ao seu país e, acima de tudo, a destruição do seu apreciado reactor nuclear. Os iranianos não são facilmente intimidados. Eles perderam quase um milhão de pessoas na guerra dos oito anos iniciada por Saddam Hussein em 1980. No fim os iranianos triunfaram. Saddam caiu.

– As ameaças de Washington não podiam vir no pior momento. Antes de os EUA decidirem lançar-se sobre o Irão, é imperativo avaliar o que acontece no dia seguinte ao termos que enfrentar o problema. A confrontação com o Irão poderia alargar consideravelmente o pântano no Iraque, ameaçando a sobrevivência de qualquer governo no Iraque e libertar a onda do terrorismo, com ataques de bombas-suicidas contra todos os interesses americanos nos países islâmicos incluindo no Paquistão, Arábica Saudita e Kuwait.

– A confrontação com o Irão poderia alargar consideravelmente o pântano no Iraque, ameaçando a sobrevivência de qualquer governo no Iraque e libertar a onda do terrorismo, com ataques de bombas-suicidas contra todos os interesses americanos nos países islâmicos incluído no Paquistão, Arábia Saudita e Kuwait.

– É obvio também, que não seria possível conduzir duas guerras numa só região do mundo onde residem dois terços da global reserva de petróleo e gás natural sem elevar os preços do petróleo acima do actua record a níveis de quase $50 dólares o barril. Tal conflito criaria uma devastação nos EUA e economia mundial.

Eu interrompo aqui, a propósito, para referir que Christophe-Alexandre Paillard coauteur de «Géopolitique du pétrole» – Paris Match, Jun/Juillet 2005 – table sur un baril à 110 dollars début 2007, soit le même niveau qu’en 1979, lors du deuxième choc pétrolier.

– Numa recente longa conversação comigo (Ibrahim) e um superior hierárquico diplomata americano na região, que é o mais alto conhecedor do Irão, encolheu os ombros classificando o Irão como um “tigre de papel”. O que é um sério erro, mais ainda se este tipo de opinião refluir para os lideres em Washington.

– Irão rejeita a acusação que esteja a fabricar armas nucleares. Tem aceitado a inspecção internacional das suas instalações nucleares e tem declarado que continuará o programa do enriquecimento do urânio para fins científicos. A Rússia, que colabora com os esforços do Irão nesse sentido, suporta essa posição».

Esta crónica poderia ter sido escrita hoje que não perderia nada de oportunidade elevada ao mais alto patamar de bom senso. Nesse sentido o chanceler alemão Gerard Schroeder, advertiu, no mesmo dia, o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, contra uma eventual operação militar no Irão: «Retire da mesa a opção militar», aconselhou Schroeder em declarações à imprensa em Hanover.

COMENTÁRIO: “Os Novos Deuses”!!! devem ponderar as consequências de tratar com sarcasmo outros países e optar pelo diálogo. Não há necessidade de Bush provocar, outra vez, uma guerra na região, quando o seu homólogo iraniano, Mahmud Ahmadinejad, é aparentemente favorável a um «regresso à mesa de negociações» como aconselhou Schroeder.

(*) Coronel de Cavalaria

Wednesday, August 10, 2005

OS RALHETES PRESIDENCIAIS


(*) MENDONÇA JÚNIOR

Circunspecto, silencioso e quase mudo durante grande parte do seu duplo mandato presidencial, Jorge Sampaio mudou visivelmente de comportamento nesta fase final da sua permanência em Belém.
De facto, uma análise à sua agenda de tarefas dos últimos meses mostra-o num vaivém constante pelos locais mais recônditos do País que acolhem as suas “presidências abertas”; e também empenhado, no cumprimento de uma rica e variada grelha de visitas ao Estrangeiro, das quais a mais inédita e a mais sonante foi a que o levou a Beijing, acompanhado de uma nutrida representação do empresariado nacional atraída, ao que consta, pelo cheiro dos “negócios da China.

O que, vem a propósito recordar que essa propensão do PR em convidar o empresariado nacional – nas suas bem recheadas comitivas das suas visitas ao estrangeiro, que já se contam por quase uma centena – sem que sejam clarificadas as fabulosas despesas do erário público, como por exemplo: as recentes visitas ao Chile e Paraguai. Por tudo isto se diz… por aí… que a intenção do PR é manter e atrair, para o futuro, novos clientes para o seu escritório de advogados.

Entretanto, por outro lado, uma nova leitura, do que tem sido publicado nos média, revela um outro facto que não lhe era conhecido: outra propensão… para a fluidez verbal. O que, em boas verdade, não é para admirar nele que é advogado de profissão.

A fuidez do discurso é seguramente uma virtude apreciável, mas tem por costume comportar riscos, como lapsos de memória, juízos precipitados ou infundados, considerações inadequadas e muitas coisas mais. O que, em boa verdade torna sempre actual esse “errare humanum est”, postulado pela velha sabedoria romana.

Para justificar e ilustrar o que antes foi dito, escolhemos ao sabor do acaso, duas ocorrências recentes, em que ele, o nosso PR, foi sujeito.

A primeira teve por cenário um dos departamentos da nossa Força Aérea, que estava a visitar. A certa altura do percurso, foi ele abordado por um grupo de jornalistas, que quiseram conhecer a sua opinião
sobre as medidas que o Governo acabára de tomar e que tantos protestos estavam a suscitar na opinião pública. A resposta surgiu pronta, sim, mas com contornos surpreendentes porque inusitados: visivelmente irritado e descomposto. O PR, de dedo em riste – fazendo lembrar o professor do menino Tonecas – explicou aos jornalistas que, estando de visita a um departamento da Força Aérea, naturalmente que só poderia responder a perguntas relacionadas com essa mesma visita.

O ralhete foi aceite, sem qualquer reacção. Imperou o silêncio, quando o natural seria que logo surgisse alguém a lembrar-lhe que um PR deve estar sempre disponível para atender e esclarecer o que é de interesse para a opinião pública que o elegeu.

O outro ralhete aconteceu mais tarde, algures por aí, durante uma cerimónia por ele presidida. Desta feita, não foi para os Jornalistas, mas sim para as entidades bancárias nacionais, a quem arguiu, de forma clara o que em síntese se poderá resumir: «… de não estar a privilegiar os verdadeiros interesses de Portugal, com essa sua crescente disponibilidade para conceder créditos à “arraia miúda”, que os desbarata na aquisição de coisas supérfulas como os automóveis e os telemóveis. Ao invés, por exemplo, de os conceder a empresas que estão apostadas em desenvolver novas tecnologias no mercado nacional».

Esse requisitório surpreendeu e muito, pela forma exclusivista com que foi feito – o que, de certa maneira, parece vir a confirmar o que atrás se disse – isto é: uma desenfreada caça para “manter e atrair, para o futuro, novos clientes para o seu escritório de advogados”.

Em termos de fundo, o nosso PR, deixou bem claro que afinal conhece imperfeitamente o nosso Querido País. O teste comprovativo disso pode ser obtido com a formulação das seguintes perguntas:

– Sabe, por acaso, o PR que os créditos bancários concedidos à chamada “arraia miúda” não se destinam apenas á compra de automóveis e telemóveis, mas sim e principalmente à aquisição de bens e serviços essenciais como casas para morar, que são das mais caras da Europa; o custeio da escolaridade dos filhos; despesas com a saúde, que o Estado via de regra não paga, mesmo àqueles que contribuem para a Segurança Social; etc…etc…!

– Sabe que, o recurso ao crédito bancário, milhares e milhares de portugueses não teriam a mínima condição de sobrevivência!

– Sabe, ainda, que os que recorrem ao crédito para comprar automóveis, porque não os tem cedidos pelo Estado, se situam entre os que mais contribuem para saciar a voracidade fiscal desse nosso Estado perdulário. A quem pagam regularmente e sem possibilidades de fuga: o IRS; o IA; o IVA; a taxa de circulação e – “at last but not at least” – as faraónicas multas consignadas nesse monstro que é o novo Código de Estradas!

– E, sobre tudo isto, sabe, que os banqueiros são empresários como os demais. Por isso são donos da sua mercadoria (o dinheiro) que vendem, ou emprestam, com juros, somente a quem lhes convém!

Comentário: Senhor Presidente da República e Chefe Supremo das Forças Armadas porque nada disse ainda, de forma clara, pormenorizada e corajosa, sobre os três temas, altamente controversos, da actual política Nacional: INCÊNDIOS, OTA e TGV?

(*) Coronel de Cavalaria.

Tuesday, August 09, 2005

CRIME OU TRAIÇÃO


(*) Carlos Galvão de Melo

Custa acreditar mas é verdade, até que ponto chega o atrevimento de políticos sem cultura, sem educação, sem patriotismo!

Há meses que se discute a edificação do futuro aeroporto internacional na OTA, nos terrenos há mais de meio século ocupados pela Base Aérea Nº. 2. Incluidos aqueles muitos que se têm manifestado, e bem, contra tão descabida decisão, só os tenho ouvido condenar a obra sob o ponto de vista económico. A dificuldade económica é sem dúvida muito importante, mas mais importante é o facto, indesmentível, de como tal decisão se põe em risco a segurança nacional.

A Base Aérea da OTA é uma unidade chave dentro da organização da Força Aérea. É ai que têm sido produzidos os milhares de especialistas que formam a plataforma operacional da Força Aérea. Tem custado muito dinheiro, muito trabalho e muito sacrifício faze-la chegar à eficiência que hoje lhe é conhecida. São hangares, são oficinas , são salas de aula, são aquartelamentos, são casas de família, são messes, são campos de treino militar e campos de treino desportivo. É uma obra que não se fez num dia, nem num ano, mas em muitos e continuados anos e gerações.

Para onde se vai transferir este mundo complexo de alta tecnicidade? Aposto que não pensaram em tal.
Nem podiam ter pensado porque não é possível pensar no que não se conhece. Mas é evidente que a Base terá de ser transferida: para onde? Quanto tempo, vai ser precisa para efectuar a mudança? E quanto tempo, quantos anos, para novamente atingir o grau de eficiência indispensável ao bom funcionamento da Força Aérea?

Entretanto golpe no seu funcionamento vai ser muito negativo e paralisante durante largo tempo: tempo em que a segurança de Portugal resulta fatalmente fragilizada. E já agora não se esqueçam de somar os gastos astronómicos que essa transferência no campo militar vai custar, aos gastos da construção do aeroporto civil.

Veja-se o absurdo: um Primeiro Ministro e um Ministro das Finanças, dois homens que por definição ignoram completamente as exigências militares e as exigências da aeronáutica civil internacional, decidem, sozinhos, em tão importante como vital problema para a Nação!

A vossa atitude faz-me recordar certo advogado que, duas horas depois de tomar posse como Ministro da Defesa Nacional, apareceu na televisão a alardear as reformas que se propunha levar a cabo nas organizações militares de terra mar e ar. E logo de seguida não soube responder a uma só das seis perguntas, de carácter militar, postas pela entrevistadora (uma originalidade da nossa democracia tem sido nomear para Ministros da Defesa Nacional exclusivamente advogados!) felizmente esse advogado permaneceu no lugar tão pouco tempo que não teve tempo de estragar o que bem feito estava.

Ele, como os Srs. Ministros agora, cometeu o mesmo erro, a mesma indelicadeza de não consultar os que sabem: no caso presente o Chefe do Estado Maior Geral das Forças Armadas e o Chefe do Estado Maior da Força Aérea. E no caso que de momento nos preocupa também as entidades superiores da aeronáutica civil. Não o fazer é exibir extrema arrogância nascida da extrema ignorância.

Ao destruírem uma importante Base Aérea estão a enfraquecer a capacidade militar da Nação.
Ao criarem um aeroporto Nacional Internacional em local descaradamente errado, estão a paralisar o progresso e a tornar Portugal ridículo aos olhos que nos espreitam do lado de lá das fronteiras.


Do ponto de vista interno, um passageiro poderá voar de Pedras Rubras à Ota em poucos minutos e, depois, seguir de autocarro para Lisboa onde, se tiver sorte, vai chegar passado uma hora.

Quanto às ligações internacionais é preciso ter em mente que hoje não acontece como há meio século, quando era frequente os aviões, voando da Europa para as Américas, virem à Portela fazer trampolim para galgar o Atlântico. Hoje qualquer companhia aérea liga facilmente Paris a Nova Iorque. A este aumento de raio de acção dos aviões modernos, acresce a tendência, já à vista, de aumentar desmesuradamente a capacidade de carga, que já se verifica de 350 para 700 no respeitante ao número de passageiros. O aumento do raio de acção e o aumento da capacidade de carga, são dois factores que tendem a diminuir ou pelo menos não aumentar o trânsito de aviões pelos aeroportos situados em Portugal.

Melhorar o aeroporto da Portela parece de bom conselho pois que por certo ainda vai servir por muitos anos senão para sempre. Caros Srs. Ministros, sair da Portela já é errado, transferir para a Ota é erro dobrado.

Para completar: já se deram ao cuidado de olharem com atenção a topografia da área geográfica onde está instalada a Base nº. 2, topografia que só permitiu a construção de uma pista? Já se deram conta do que será aplanar toda aquela zona e dos custos a que vão obrigar, sem contar os extras que hão-de vir à luz do dia quando forem expropriar terrenos que, segundo consta, já estão a ser comprados para depois serem vendidos a preços exorbitantes? Seria muito mau descobrir que algum dos actuais compradores fosse um político defensor da implantação do aeroporto da Ota! Averiguar não custa nada porque, felizmente, contamos com uma Polícia Judiciária fortemente eficaz.

Caros portugueses é tempo de dizer basta. É vosso direito e vossa obrigação. E se fizerdes não será a primeira vez que o Povo, o autêntico Povo, sai à rua defender Portugal daqueles, que tendo obrigação de servir, apenas dele se servem.

Mal gastar os dinheiros da Nação a construir um aeroporto internacional não necessário, edificado no lugar errado, é crime; destruir uma Base Aérea essencial à defesa Nacional é traição: é Alta Traição.

Compete ao Sr. Presidente da República, na dupla qualidade de responsável pelo Património Nacional e Chefe Supreno das Forças Armadas, evitar tamanhos escândalos.

Terá V. Exa. coragem para tanto? Deus o queira e o ajude.


(*) General Piloto Aviador com o Curso Complementar do Estado Maior.

Monday, August 08, 2005

A BATALHA DE LUANDA?: «uma História mal contada»


(*) Mendonça Júnior

Considerada como registo de factos memoráveis, a História (tanto a que é escrita como a que é reproduzida oralmente) nem sempre é isso. Já que, com frequência, ela é adornada com omissões, acréscimos, desvios e quejandos ou mesmo – o que é ainda mais grave – com insucessos acobertados com roupagem factual. Os quais são fruto, nuns casos, de ignorância ou de lapsos de memória, involuntários ou não; e, noutros, são de entender-se com propósitos deliberados de contornar a verdade para fazer valer a mentira.

Não é de admirar que seja assim: afinal, quem protagoniza, escreve ou reproduz a História é sempre um ser humano, igual àquele que, expulso do paraíso por ter acreditado na “mentira da serpente”, ficou por certo condenado, “ad vitam aeternam”, a jamais conhecer a verdade na plenitude.

Da História antiga pouco se conhece nesse particular, mas da contemporânea os exemplos dessas omissões, acréscimos, desvios, etc, e sobretudo de insucessos apresentados como factos são múltiplos e estão à mão de semear. Constituem elas as chamadas “mentiras históricas”, algumas das quais, como as ditas “armas de destruição maciva de Saddam” e o “11 de Setembro”, foram tão estrondosamente badaladas por esse mundo fora, que ainda hoje, tanto tempo já passado, têm ressonâncias que quotidianamente nos torturam os ouvidos.

Como é óbvio, este nosso milenar Querido Portugal, sujeito como é também da História, não podia ser uma excepção, nesse particular. E não é efectivamente. Pois aqui também abundam e proliferam quotidianamente casos semelhantes acima referidos. Os quais ao assumir aspectos verdadeiramente escandalosos, sobretudo quando os desvios, os acréscimos, as omissões e as mentiras com que são enfeitados se relacionam com factos de ocorrência recente, possibilitando portanto fáceis testemunhos contraditórios.

Exemplo disso tudo podem ser encontrados facilmente, no pouco ou nada que se tem escrito e bem assim no muito que se tem dito, sobre esse momento da História do nosso País, a que se deu o nome de “descolonização”. E muito particularmente na que envolveu Angola, onde o confronto de interesses foi sempre tão grande e tão imperante, que acabou, na maioria das vezes, por justificar a ausência daquilo que a História sempre exige: a isenção e a verdade.

Vem-nos momentaneamente, à memória, alguns de entre os mais gritantes. Ei-los:
– O início da rebelião contra o regime colonial, que uns atribuem ao “4 de Fevereiro” e outros ao “15 de Março”, ambos ocorridos em 1961, quando na realidade, a História identifica-o com o que se passou na Baixa do Cassange em 1960 ou até mesmo com a “marcha dos tocoistas” contra São Salvador do Congo, ocorrido duas décadas antes;
– A “ponte aérea que, em 1975, transportou centenas de milhares de portugueses de Angola para Lisboa, a qual muitos dizem ter sido ideia do governo português de então, quando na verdade foi ela engendrada, financiada e organizada por uma potência estrangeira, os Estados Unidos da América, que antes havia feito tudo para correr com os europeus das suas colónias;
– O acordo de que raramente se tem ouvido falar, celebrado num jantar de um café restaurante da rua da Ópera em Paris, com a participação de Mário Soares, Álvaro Cunhal – que receberam cada um, 1 milhão de contos para que os seus respectivos partidos privilegiassem os movimentos pró-maxistas que existiam nas colónias portuguesas – e Boris Ponomorof, membro do então Governo Soviético, que impôs à “descolonização” o rumo político, que ela cumpriu.

A BATALHA DE LUANDA?
Tudo o que acima se afirma exprime a reacção que experimentámos quando, bem recentemente, tivemos a oportunidade de ver, num dos canais da TV Cabo, um documentário em que se fala da descolonização de Angola e muito particularmente da luta que se travou entre o MPLA e alguns dos seus opositores pela posse de Luanda. Luta que, tendo tido o seu auge a escassos dias da data da proclamação oficial da independência – 11 de Novembro de 1975 – ficou conhecida como a batalha de Luanda.

Além do relato das principais ocorrências, esse documentário foi completado com opiniões interpretativas, formuladas pessoalmente por um grupo de oficiais reformados das nossas Forças Armadas do qual se destacam dois:
– O Contra Almirante Rosa Coutinho e o
– O Brigadeiro Pezarat Correia
Um e outro com permanência em Angola, no “posto 25 de Abril”, mas ali afastados muito antes da data da independência.


O documentário comporta, naturalmente, o que já não é surpresa, ou seja, os costumeiros desvios, omissões, contornos, e até mesmo inverdades com vestimenta factual. A mais escandalosa das quais foi expressa por aqueles dois conhecidos militares, que com o ar mais natural deste mundo, juraram e sacramentaram que foram tropas do MPLA, que, com a colaboração de alguns cubanos, enfrentaram, combateram e acabaram vencendo as forças da Oposição que, sob o comando do Coronel Gilberto Santos e Castro se propunham tomar de assalto Luanda, para impedir a proclamação da independência por parte do MPLA.

Repetimos: a versão formulada não tem visos de verdade e, como se disse, assume contornos de escândalo e mesmo de injúria, tanto mais reprovável quanto é certo ela atingir a honra de alguém que, por não ser já deste mundo não pode ripostar.

Assim sendo e em nossa opinião, a única forma de minorar ou mesmo anular os efeitos dessa injúria é reconstituir os factos, tal como ocorreram e com a caução de testemunhos presenciais, que ainda hoje e a qualquer momento, podem ser invocadas. É, pois, o que a seguir fazemos procurando respeitar o trajecto cronológico, para, deste modo, melhor entender tudo o que se passou.

O fim da luta armada em Angola ficou consagrado no acordo celebrado em Alvor (Algarve) no final de Janeiro de 1975, Acordo pelo qual se estabeleceu um governo de transição tripartido – Portugal e os três movimentos de libertação angolanos – a quem foi incumbida a tarefa de gerir o país até à data da independência marcada para 11 de Novembro desse mesmo ano.

Durou pouco esse governo. A rivalidade entre as três formações angolanas, a ambição pelo mando absoluto e também a passividade da parte portuguesa conduziram rapidamente à sua falência total. Surgiram e multiplicaram-se, um pouco por todo o lado, casos de violência envolvendo as três partes angolanas, de tal modo que, no final de Agosto desse ano, o MPLA já era senhor absoluto da capital, de onde havia expulsado sem mais aquelas os representantes da UNITA e da FNLA.

A opinião generalizada que então se formou, nessa altura, tanto em Angola como fóra, era de que, assim tendo procedido, o MPLA estava a preparar-se para, em 11 de Novembro, proclamar unilateralmente a independência, na expectativa de que a passividade da opinião pública, tanto interna como a externa, ajudasse a consagrar a ilegalidade.

Esqueceu-se, porém, Agostinho Neto, o então líder do MPLA. que, com a descoberta do petróleo, acontecida anos antes, Angola passára a estar sob vigilância cerrada que, então como agora, controlam a produção e o comércio do crude à escala mundial. O resultado dessa falha de memória foi que, pouco tempo depois, Angola era, sem mais aquelas, invadida por uma força militar sulafricana procedente da Namíbia. A qual, depois de tomar, sucessivamente, as cidades do Lubango, Benguela e Lobito, avançou em direcção a Luanda. Onde, no entanto, não chegou a entrar, já que ao atingir as margens do rio Quanza (a cerca de 200 kilómetros da capital) foi mandada parar.

Por ordem de quem e porquê? Ocorre naturalmente perguntar?

Segundo fontes diplomáticas sulafricanas desse tempo, Washington, que havia sugerido a invasão, fora quem formulára essa espécie de contra-ordem, acompanhada de um novo pedido: que os sulafricanos transferissem parte do material bélico que transportavam para um outro grupo armado, que, constituído por guerrilheiros da FNLA, soldados zairenses disponibilizados por Mobutu e alguns voluntários portugueses, e sob o comando do Coronel Santos e Castro, se encontravam, nessa altura, a assediar Luanda pelo Norte, com o objectivo de a tomar, antes da data da proclamação da independência.

Uma vez na posse do material cedido pelos sulafricanos , que incluía três peças G5 – fabricadas na RSA e capazes de atingir objectivos localizados de até 50 Kms – Santos e Castro começou a preparar o ataque e a tomada de Luanda concebido nos seguintes termos: bombardear primeiro, utilizando as peças cedidas, com vista a estabelecer o pânico entre os defensores e a população da capital e, a seguir, realizar o assalto por terra. Plano que, uma vez concebido, foi divulgado via Kinshasa, com vista naturalmente a desmoralizar ainda mais o inimigo.

Sendo assim, no dia 6 de Novembro, depois de ter tomado a vila de Caxito, estabeleceu-se ele com os seus homens no Morro da Cal – uma pequena elevação de terreno situada a cerca de 30 Kms de Luanda e dali fez três disparos dos G5 contra a capital. Dos quais um atingiu a pista do aeroporto, outro caiu na baía e o terceiro atingiu a refinaria de petróleo do Alto da Mulemba, provocando um incêndio, que acabou por ser dominado.

A estratégia resultou em pleno: o pânico previsto estabeleceu-se e generalizou-se, e, naturalmente começaram a circular boatos os mais diversos, um dos quais um concebido em termos de suscitar histeria colectiva e pavor. Eles os “fenelas” – assim o vulgo luandense chamava aos homens de Holden Roberto – vão entrar e vão degolar todos: pretos brancos e mulatos.

Entretanto, as horas e os dias foram passando nessa terrível expectativa que se ia acentuando à medida que, um pouco por todo o lado na cidade, se ia escutando sons de disparos, resultantes do confronto que se ia verificando amiúde entre grupos de soldados que Santos e Castro ia mandando avançar em missões de sondagem do terreno e os militares que o MPLA tinha colocado fora do perímetro urbano da capital com missões de entreter o inimigo para deste modo possibilitar o envio de reforços.

Chegou-se finalmente a 11 de Novembro, dia marcado para a proclamação da independência, sem que no entanto se houvesse realizado o prometido assalto à capital. Mesmo assim, o pânico generalizado imperava e manteve-se sempre desde o nascer ao pôr do Sol desse dia histórico, durante o qual o único facto de registo sucedeu cerca das 16 horas, quando o alto-comissário representante da soberania portuguesa, um militar de alta patente português, General Silva Cardoso, mandou arrear a Bandeira das Quinas que encimava o velho palácio da cidade alta, dobrou-a e, com ela debaixo de um dos braços, tomou o caminho da Ilha de Luanda, onde o aguardava um navio de guerra, para o trazer de regresso definitivo a Portugal.

Deste modo inesperado e ademais ridículo e triste se concretizou o episódio final de quase cinco séculos de Histórial!!!

Entretanto, e porque a crença generalizada era de que os homens de Santos e Castro ainda poderiam atingir Luanda, a cerimónia oficial da proclamação da independência, marcada inicialmente para as 17 horas desse dia, foi sendo sucessivamente protelada e acabou por ter lugar só em plena noite e de uma forma algo improvisada.
Assim e apesar de todas as promessas e ameaças, os homens do coronel falharam: nem entraram na cidade nesse dia nem posteriormente realizaram qualquer tentativa nesse sentido, preferindo antes deixar os arredores da capital e empreender uma retirada em direcção à fronteira com o Zaire.

Porque esse falhanço, porque tudo isso? Importa perguntar?

A resposta ouvimo-la já aqui em Lisboa. Primeiro da boca do Coronel Santos e Castro, poucos meses antes da sua morte; e logo a seguir, por intermédio de alguns portugueses e angolanos, que foram seus companheiros nessa aventura. E tivemo-la confirmada, mais tarde, pelas mesmas fontes diplomáticas sulafricanas atrás referidas. Ei-la, pois, reproduzida de forma sintética mas clara.

Na madrugada do dia 9 de Novembro e cumprindo o plano que estabelecera, o Coronel Santos e Castro dirigiu-se à tenda onde se albergava Holden Roberto, o Presidente da FLNA, para lhe comunicar que ia imediatamente pôr a funcionar os G5 e iniciar o bombardeamento da capital. E foi então informado que estava impossibilitado de o fazer, já que, um pouco antes, os artilheiros sulafricanos haviam desmantelado as culatras dos G5, tornando-os inoperacionais, embarcando a seguir num helicóptero que os transportou para bordo de um navio do seu país que os aguardava ao largo do porto de Ambriz.
E isso no cumprimento de uma exigência imposta de Washington a Pretória.

Dito isto, só resta a lógica conclusão final. Não foram pois os homens do MPLA que
impossibilitaram a tomada de Luanda pelas forças comandadas pelo Coronel Santos e Castro.

Nada disso. A responsabilidade do insucesso cabe a outro. E quem é ele? Resposta é inequívoca. Esse mesmo que, desde sempre, se notabilizou por promover guerras e fazer delas um negócio altamente lucrativo para si próprio:
Os Estados Unidos da América.


(*) Coronel de Cavalaria

Thursday, August 04, 2005

PERDER A MEMÓRIA


(*) Belmiro Vieira

O Tribunal Constitucional italiano vetou a nova lei sobre a imigração, recentemente elaborada e aprovada pelo Governo de Berlusconi. A qual, em sua opinião, contém artigos que brigam com a lei fundamental do país.

Entre os artigos que mereceram o não, sobressaem dois:
– um, que estipula que qualquer imigrante pode ser expulso do país, após julgamento e condenação em tribunal comum, onde, no entanto, não lhe estão asseguradas garantias mínimas de defesa;
– o outro, que prevê a detenção obrigatória de qualquer imigrante que, condenado judicialmente a deixar o território italiano, não o faça no prazo máximo de cinco dias.


De encontro com informações veiculadas na Imprensa Transalpina, a nova lei sobre a imigração foi uma exigência dos dois parceiros de Berlusconi na coligação que ora governa a Itália. Ou mais concretamente, de Granfranco Fini, o ora MNE e líder da Aliança Nacional; e de Umberto Bossi, o chefe da Lega Norte, um e outro empenhados, desde há muito, no combate à imigração.

A Itália – recorda-se a propósito – foi e ainda é um país de emigrantes:
– houve, e há italianos aos milhões a trabalhar em países como a Argentina, Brasil, Austrália, África do Sul e os Estados Unidos, para referir apenas aqueles onde a sua presença é mais significativa.
– a trabalhar – repete-se – e por certo a contabilizar ganhos de interesse para o seu próprio país.

Pode-se mesmo admitir e afirmar que há italianos imigrantes nos cinco continentes.

Comentário: Assim sendo, e porque como ensina a Moral Social, «ninguém deve fazer a outrem o que não quer que lhe seja feito»… não é lá muito compreensível essa hostilidade de alguns políticos transalpinos à imigração de estrangeiros.
Ou será que perderam a memória?


(*) Jornalista

Morte de dois homens grandes? «Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal»


(*) Fernando Xavier de Brito

Recordo-me de ainda criança ouvir aos meus Avós vários ditados populares que, segundo dizem, «Voz do Povo, voz de Deus», Entre os muitos que ouvi, um houve que na altura me fazia espécie. «Burro morto, cevada ao rabo».
Será que se quer referir à pecha nacional de tentar endeusar aqueles que «pela lei da morte se vão desta vida libertando?» Ou procura-se com isto assegurar-lhes um lugar na História?
Certamente que o terão, Miguel de Vasconcelos também o tem… E essa mesma História com o passar dos anos os julgará.

Mas, ao que assisti nestes últimos tempos tem-me feito muita confusão. Será que já se esqueceu as prisões e roubos que se seguiram ao 11 de Março de 75? Será que foi esquecida a forma como foi dada a independência ao nosso ex Ultramar e as trágicas consequências que advieram?
Se pretenderam com isto, prestar uma homenagem aos falecidos, fizeram também uma grave ofensa aos nossos compatriotas e às populações do antigo Ultramar, que ainda hoje sofrem na carne as consequências das decisões em que estes homens foram coniventes ou os principais promotores.

Como em tudo na vida, há sempre uma ilação a tirar. Não procurarei aqui criticar ou enaltecer a passagem destes dois homens por esta vida. O bem ou mal que fizeram a História futura os julgará. Poderei, isso sim, analisar sob o meu ponto de vista o seu aspecto pessoal dado o conhecimento que tive em relação às suas actuações. Ambos foram, cada um à sua maneira, uns verdadeiros líderes e condutores de homens.

Vasco Gonçalves, meu contemporâneo na Escola do Exército, sempre o considerei um bom homem, humano e sensível. Tudo quanto dizia fazia-o com a sinceridade e com a convicção que o seu coração lhe ditava. O Vasquinho era assim.
Mais tarde, na política, se compreende que os seus discursos descabelados, tenham arrastado tanta gente e levado muitos portugueses a darem um dia de trabalho em prol da Nação.
O Partido Comunista que o diga. Aproveitou-se dele enquanto os seus discursos inflamados, mas saídos do coração, davam um cunho de sinceridade e de verdade arrastando as multidões, mas deixou-o pendurado quando já não precisava dele…

Quanto a Cunhal, tenho um grande respeito por ele como líder. Não por concordar com as suas ideias, mas pela convicção com que as defendeu e coerência que sempre manteve.
Se compararmos esta coerência com a de muitos dos actuais políticos que estão na berra, em que uns dizem que só os burros não mudam e outros para não o serem, saem da direita para a esquerda… Prefiro mostrar o meu respeito aos que, como homens, são coerentes.

Porém, no 25 de Abril, ambos enganaram e muitos outros fomos enganados por terem acreditado nos que acreditavam naquilo que defendiam e assim morreram… Por ingenuidade? Por estupidez? Hoje é fácil de julgar, principalmente por aqueles que nada arriscaram naquela altura.
Os que morrem em combate, também acreditam naquilo que defendem.

Aquele que vacila não é um Chefe ou um verdadeiro Líder. Para o ser, terá que estar absolutamente convicto daquilo que diz e só assim poderá ser credível e ter seguidores.
Respeito estes homens como Líderes que foram, mas não pelas suas obras.
Demóstenes andava com uma lanterna, de dia, à procura de um HOMEM
Hoje, infelizmente, também não se encontra.


(*) Coronel de Cavalaria

Wednesday, August 03, 2005

A NATO NAVEGA PARA O SUL


(*) Mendonça Júnior

Estava a tardar, mas ei-la finalmente; a NATO vai passar a operar para lá da região norte do Atlântico, cuja defesa lhe foi confiada, quando da sua fundação, vai para mais de meio século.
Em termos mais concretos, a organização militar liderada pelos “States” e integrada por vários países europeus, entre os quais Portugal, vai em breve instalar uma base operacional em Cabo Verde.
O arquipélago atlântico que, fazendo parte dos chamados FALOP, se localiza a escassas milhas da costa ocidental africana e num ponto onde se cruzam as principais rotas marítimas que ligam a África Meridional e grande parte da América Latina à Europa.

A notícia foi divulgada inicialmente a partir da capital caboverdiana – cidade da Praia – e mais tarde teve confirmação oficial de Bruxelas. De acordo com ela, a base vai ter por missão combater o quotidiano e crescente tráfico de droga e de mão-de-obra clandestina, que, procedente da América Latina e de algumas regiões africanas, se destina à Europa.

Certo que a NATO, uma vez morto o bolchevismo: «esse “tigre de papel”, engendrado e financiado por banqueiros judeus-americanos, com a finalidade de destabilizar a Rússia e o resto da Europa, para que não crescessem e deste modo não fossem concorrentes», deixou de ter inimigos oficiais. Por isso há todo o interesse em inventá-los.

Só que essa de proclamar que o inimigo a combater agora é o narcotráfico ou a mão-de-obra clandestina não é coisa facilmente deglutivel. Já que, como é do conhecimento geral, tanto o narcotráfico como a mão-de-obra clandestina, em rota quotidiana para a Europa, são fenómenos corriquieros e que, de anos a esta parte, se manifestam quase que à luz do dia, sem que na prática sejam perturbados.

E tudo isto porquê? Simplesmente porque quem gere e controla o negócio da droga são “clans internacionais” poderosíssimos, graças aos milionários ganhos que arrecadam. Ganhos que movimentam de país para país, em operações de branqueamento, que fazem deles clientes queridos e privilegiados da alta finança, que é afinal, e como se sabe, quem põe e dispõe.

Quanto à mão-de-obra clandestina, sendo como é a mais barata, é naturalmente a mais cobiçada e isso diz tudo.

Há ainda um outro pormenor a reter. Os traficantes não são otários: engendram e têm à sua disposição mil e umas rotas de utilização.

Perante os considerandos que antes se formulam, ficam-nos sérias dúvidas sobre se os responsáveis da NATO têm justificação para avançar com a nova base operacional, a menos que a sua verdadeira finalidade não seja essa.

Comentário: Qual então? O que será? Novas e fabulosas jazidas petrolíferas ou de urânio? O futuro dirá por nós. Mas, para já, é bom lembrar que a África, esquecida até há pouco tempo, está agora á luz da ribalta, graças às sonoras campanhas do inglês Blair e as generosas promessas de ajuda do omnipotente “G8”.

(*) Coronel de Cavalaria

Tuesday, August 02, 2005

E ENTRETANTO PORTUGAL CONTINUA A ARDER (III)


(*) Carlos Galvão de Melo

O avião de pouco ou nada serve quando o incêndio na sua marcha destruidora já cresceu para frentes de 10 ou mais quilómetros A partir desta dimensão nenhum meio humano de combate ao incêndio o pode parar e muito menos extinguir. Ele extingue-se por si próprio quando já nada houver para arder.

No Artº. Anterior chamei a atenção para este facto, e hoje insisto porque é esse o ponto sensível, o ponto de não retorno.
É este o panorama que os aviões de maior tonelagem, alugados tardiamente, vêm encontrar quando chegam a Portugal pilotados por operacionais que desconhecem por completo as áreas onde vão actuar.

Esta é a prática criminosa e dispendiosa que se vem adoptando em Portugal vai para mais de trinta anos.

A frota aérea contra incêndios tem de estar permanentemente disponível dia e noite, bem assim as suas tripulações que devem ser mantidas a par das situações de fogo ou simples ameaça, actualizadas sempre que evoluem.
Só partindo de conveniente estado de alerta, tripulados por operacionais familiarizados com as possíveis zonas de intervenção, podem as aeronaves atacar o incêndio enquanto não alastrou demasiado, isto é nos primeiros minutos. Pilotos decididos a atacar o incêndio, com o mesmo ardor e abnegado patriotismo com que o piloto de guerra ataca o inimigo que vem tentar roubar-lhe a terra. Atitude esta impossível ao mercenário cuja finalidade é ganhar dinheiro.

O importante é impedir que Portugal continue a ser devastado pelo fogo e não só. De facto, como se o fogo não chegasse há quem esteja interessado – desesperadamente interessado – em destruir a Base Aérea da Ota, a mais sólida unidade aérea construída em Portugal, para dar lugar à construção de um aeroporto internacional que ficará situado na pior área geográfica que imaginar se pode.

Quando for oportuno darei a público um artigo exaustivo ( já delineado) demonstrando a dimensão e as implicações do crime que é destruir uma base aérea excelente, em pleno funcionamento, para aí edificar um aeroporto que mal servirá os fins nacionais e pouco há-de interessar aos internacionais. O título desse artigo vai ser «Crime e traição».

Os portugueses têm o direito de ser informados acerca da mediocridade de quem os governa e engana com mentiras. Em particular aqueles milhares de portugueses que vivem no limiar da miséria, têm de saber porquê as suas pensões e os seus ordenados não podem ser aumentados: não podem porque o erário público é desbaratado em obras a prejuízo do bem estar da Nação e, até, contra a segurança da Pátria.

Entretanto Portugal continua a ser destruído pelo fogo e ainda mais pela corrupção. Mas voltemos ao tema central.

Aqui chegados poderíamos terminar pois que já foram apresentados e explicados argumentos de sobra criticando o que se tem feito de mal feito e o que não se tem feito e que devia ter sido feito. Vou ainda fornecer alguns dados sobre as mais recentes produção de aeronaves contra incêndios que já equipam vários países.

Porém, mais completo do que o que eu possa aqui dizer, sugiro que se leia o Diário de Notícias de 9 de junho último, no qual podem encontrar abundante e detalhada informação reforçada com fotografias que muito ajudam a compreender e fixar.

Do já idoso Canadair, anfíbio que carrega 6 toneladas e se abastece em 10 segundos sem pousar, e foi mestre absoluto durante vários anos não vale a pena aqui mais dizer por duas razões: todo o mundo civilizado o conhece e está ultrapassado.

Felizmente são muitas e variadas as mais recentes e eficazes aeronaves contra incêndios.
Alguns exemplos:
O 64 americano, carrega 10.000 litros.
O Beriev Be-200, russo, carrega 12.000 litros.
O japonês VS-1ª KAI, carrega 15.000 litros.
O russo MI-26T, carrega 20.000 litros.
O russo ILY ushinII-76, carrega 57.000 litros.
O americano Evergreen Supertanker adaptado do gigante Boeing, carrega 90.000 Litros.

Como se vê há muito por onde escolher.

Quando na década de oitenta apresentei o Canadair, um dos argumentos negativos muito ao gosto dos políticos era “e o que fazemos com esses aviões quando não há fogos?”
Mau grado a hipocrisia da pergunta, eu repondi-lhes com outra pergunta “ que fazem os
Senhores com os aviões de guerra quando não há guerra?” e por vezes acrescentava: «já se deram conta que os períodos sem guerra são – felizmente – muito superiores aos intervalos entre incêndios que reaparecem todos os anos com a Primavera?»

Mas, como diria Camões: a nada os brutos se moviam.

Eles sabiam perfeitamente que o Canadair era extremamente versátil. Mas ainda que o não fosse que bom seria possuir uma modelar frota aérea contra incêndios… e nunca haver incêndios.

Não, a oposição destes senhores nada tinha haver com o modo de utilizar os aviões nos períodos do ano em que a terra, permanentemente encharcada não arde, porque o que os afligia era não vislumbrarem lucros pessoais numa aquisição em que, como já o disse no 1º artigo, não se usava uma divisa.

Esta é que é a verdade de que pouco se fala mas todos adivinham.

Sr. Presidente da República, a salva guarda do património nacional é da Vossa responsabilidade e competência: actuai sem tardança, porque…
«E ENTRETANTO PORTUGAL CONTINUA A ARDER».


(*) General Piloto Aviador com o Curso Complementar do Estado Maior.

Monday, August 01, 2005

LIBERDADE O QUE É?


(*) Belmiro Vieira

No início da década de trinta do último século, visitou, durante alguns dias, o nosso país o filósofo alemão Hermann Keyserling, o fundador da chamada Escola da Sabedoria, onde se ensinava, entre outras coisas, que o homem do futuro seria uma simbiose do sentido prático e racionalista do Ocidente com o tradicionalismo e a profundidade espiritual do Oriente. Visita concluída, um jornalista lisboeta quis saber dele o que mais o havia impressionado nesse seu contacto com os portugueses. A resposta foi dada nestes termos:

«O que mais fere a atenção de um visitante estrangeiro é, sem dúvida, a propensão que os portugueses soem manifestar para a adopção do superlativo, tanto ao que dizem como no que fazem, ignorando assim o meio termo que, como diziam os sábios romanos, é onde se situa a virtude . É isso aliás que os diferencia da maioria dos europeus».

Acertou em cheio o filósofo alemão. Efectivamente, o individualismo exarcerbado que herdou do antecessor lusitano, leva com frequência o português a privilegiar mais o que é instintivo que o racional. E, como é facilmente comprovável, quando a razão escasseia e o instinto sobra, quase sempre se impõe o exagero que leva aos extremos.

Um exemplo prático disso temo-lo nesse surpreendente “não te rales” com que a maioria dos portugueses tem aceitado os sucessivos desgovernos das últimas três décadas, responsáveis em grande parte pela “crise” de que ora tanto se fala.

Essa propensão para atitudes superlativas, que não é exclusiva das chamadas classes baixas ou populares, já que as elites também soem pecar, reflecte-se bem na forma como entre nós foi e é entendida a democracia restituída no “25 de Abril”. E quem tiver dúvidas que dê uma olhadela, põe exemplo, para que reflecte a uma comunicação social, onde umas vezes se diz tudo e outras vezes nada.

Querem um exemplo prático? Pois aqui o têm: Um professor universitário, muito conhecido, por ter estado em São Bento e andar a sonhar com Belém, enquanto realiza incursões regulares na Comunicação Social, falando há pouco a um grupo de jornalistas, com ele reunidos num jantar de solidariedade, exaltou a importância da liberdade de opinião na Comunicação Social, que caracterizou desta forma:

«Faz parte da liberdade de expressão dizer o que se quer e quando se quer e também escolher o silêncio».

Sinceramente, discordamos em absoluto da afirmação produzida. Estamos em crer que o professor se deixou entusiasmar pelo calor da homenagem que na reunião lhe foi prestada e não meditou na enormidade do que afirmou.

Dizer o que se quer e quando se quer significa usufruir de liberdade plena e absoluta, que deixou de ser tolerável a partir do momento em que os homens passaram a viver em sociedades. O que os condicionou de vez, como se acentua na célebre e sábia máxima de Descartes:

«A liberdade de qualquer indivíduo termina onde começa a do seu semelhante».

A Comunicação Social não consente excepções a essa regra. Isto para não falar de outras, que lhe são específicas, entre as quais se destacam a que exigia Charles Havas, o fundador da actual “France Press”:

«Informar com rapidez, sim, mas sobretudo com verdade».

E essa outra, da autoria do Cardeal Herrera, fundador do prestigiado mas já desaparecido”Ya” de Madrid que se exprimia desta forma:

«Nem tudo o que acontece é notícia; e mesmo que possa ser notícia, haverá sempre que ponderar sobre o tempo e a oportunidade da sua publicação».

(*) Jornalista